Título: Demanda por crédito vai continuar firme em 2011
Autor: Rockmann, Roberto
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2011, Especial, p. G4

A demanda por crédito de pequenas e médias empresas deverá continuar aquecida em 2011, mas em um ritmo inferior ao verificado ano passado, por duas razões: a política monetária mais restritiva do Banco Central e o menor crescimento da economia, que deve se expandir 4,5%, abaixo dos mais de 7% projetados em 2010. Segundo especialistas, as linhas de capital de giro e para expansão das linhas de produção devem continuar sendo as mais solicitadas pelos empreendedores.

Em 2010, a demanda por crédito dos consumidores cresceu 16,4%, com a economia aquecida, segundo indicador medido pelo Serasa Experian. Em 2011, os consumidores devem procurar menos linhas de crédito para adquirir bens em um cenário de menor expansão da economia e juros mais elevados. Diante desse horizonte, as pequenas empresas devem acompanhar esse cenário e devem demandar menos crédito.

"As micro e pequenas empresas acompanham de perto a atitude do consumidor, que deve usar procurar menos crédito e assim elas também devem reduzir sua demanda", diz o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida. Em 2010, a demanda por crédito das micro e pequenas empresas foi de 8,5%, taxa mais alta entre todos os portes de empresas analisados pela Serasa.

No Itaú Unibanco, as pequenas e médias empresas têm ganho espaço na carteira do banco nos últimos meses, tendência que deverá se consolidar nesse ano. "Há demanda nesse segmento e estamos trabalhando para atender a ela", diz o diretor de relações de investidores do banco, Rogério Paulo Calderón Peres. Segundo ele, as linhas que deverão ser mais demandadas pelos empreendedores em 2011 devem ser de capital de giro, linhas especiais do BNDES e dívida estruturada com empresas buscando financiar a expansão de sua frota de veículos ou ampliação de linhas de produção.

O superintendente nacional de micro e pequenas empresas da Caixa Econômica Federal (CEF), Zaqueu Soares Ribeiro, diz que o ritmo de concessão de crédito às micro e pequenas empresas em janeiro sofre um declínio em decorrência do seu ciclo operacional, tanto entre pequenas varejistas quanto em pequenas indústrias, mas a retomada já ocorre em fevereiro ou março. Normalmente, nesse período, as empresas do setor de comércio estão focadas na venda de seus estoques remanescentes. "Isso representa a entrada de recursos em caixa, somando-se aos recebimentos das vendas a prazo realizadas no final de ano."

Já, no setor industrial, muitas micro e pequenas empresas ainda estão planejando estoques e outras concedem férias coletivas para seus empregados. "Os investimentos começam a acontecer a partir de fevereiro ou março", diz.

Para este ano, a expectativa é de um crescimento de 30% no saldo da carteira total de Pessoa Jurídica da CEF, que no final de novembro estava em R$ 26,5 bilhões. Para ganhar espaço nas pequenas e médias empresas, o banco estatal tem diversificado seu portfólio. "Temos desenvolvido produtos específicos para micros e pequenas empresas, de acordo com a sua realidade, a exemplo do que aconteceu em 2010, quando lançamos linha de produtos com garantia do Fundo Garantidor de Operações (FGO), que tem por finalidade atender empresas com dificuldade de apresentar garantias", diz Ribeiro.

Diante do cenário positivo para a economia brasileira nos próximos cinco anos, os empreendedores deverão buscar financiar investimentos de olho no aumento da demanda. "Normalmente, as linhas mais procuradas são as para capital de giro. Mas, este ano, considerando que o país está se preparando para eventos importantes que acontecerão nos próximos anos, em especial a Copa e as Olimpíadas, a tendência é de que cresça também a procura por investimento. As empresas necessitam ampliar sua capacidade produtiva e de acomodação, no caso do setor de turismo, para atender a demanda esperada em decorrência desses eventos", diz o executivo da Caixa.

Se a procura por crédito deve se manter aquecida em 2011, como deve ficar a inadimplência tanto do consumidor como das empresas? Segundo a Serasa Experian, a taxa de inadimplência dos consumidores cresceu 0,8% em novembro de 2010, o sexto avanço mensal consecutivo. Como o indicador possui a propriedade de antever, num horizonte médio de seis meses, as oscilações cíclicas da inadimplência, esta sequência de elevações mensais sinaliza que a inadimplência do consumidor poderá reverter o atual movimento de queda ainda neste primeiro semestre de 2011. Apesar da elevação, o indicador permanece abaixo do nível 100, ou seja, indica uma inadimplência inferior ao padrão histórico brasileiro.

Para Calderón Peres, do Itaú Unibanco, essa é uma questão que não preocupa. "A taxa de inadimplência está sob controle, na pessoa jurídica já se nota estabilização, enquanto na pessoa física, há uma melhora", afirma.