Título: Meirelles deve ser indicado para o cargo de Autoridade Olímpica
Autor: Romero, Cristiano; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2011, Política, p. A6

O ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deve ser nomeado Autoridade Pública Olímpica (APO), cargo a ser criado pela presidente Dilma Rousseff para comandar as ações governamentais com vistas à realização dos jogos olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. "[A indicação de Meirelles] caminha bem, mas não é algo definitivo", informou ontem ao Valor um auxiliar da presidente. Desde dezembro, Meirelles vinha sendo cotado para ocupar um cargo no governo Dilma. Sua preferência foi sempre pela função de Autoridade Olímpica, que pode vir a ter status de ministro. Mas a presidente pensou também em nomeá-lo para comandar uma secretaria especial, ligada à presidência da República, destinada a administrar os aeroportos.

Na semana passada, o nome de Meirelles foi cogitado também para o comando da Eletrobras, dentro do plano da presidente de nomear técnicos para o setor elétrico. Nos últimos dias, tomou força, no entanto, a ideia de nomeá-lo para o cargo de APO. "Ela [a presidente] quer que ele volte para o governo. E ele quer voltar", comentou um assessor graduado do governo.

A função de Autoridade Olímpica é uma demanda do Comitê Olímpico Internacional (COI). A escolha de Meirelles reuniria três vantagens, segundo assessores. A primeira é que, com a nomeação, Dilma contempla um aliado que estava fora do atual governo. Outra vantagem é a reconhecida capacidade de Meirelles como gestor.

Ex-presidente internacional do FleetBoston (ex-BankBoston), ele foi o mais longevo dos presidentes do Banco Central (BC) na história do país. Sua gestão à frente do BC foi, em geral, elogiada dentro e fora do Brasil. Em 2010, incentivado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles cogitou disputar um cargo político. Seu sonho era compor chapa, como vice, com a então candidata Dilma Rousseff, mas seu partido preferiu indicar Michel Temer, com a promessa de depois sugerir seu nome para o ministério, o que acabou não acontecendo.

A terceira vantagem apontada por aliados da presidente é a boa imagem que Meirelles tem junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao COI. O ex-presidente do BC foi um dos expositores escolhidos pelo governo brasileiro para justificar as razões pelas quais o Brasil tinha condições de ser a sede dos jogos olímpicos. A primeira exposição feita por Meirelles, ainda em 2009, agradou tanto os representantes internacionais que estes aconselharam os integrantes do COB a incluí-lo na comitiva brasileira que faria uma nova apresentação em Lausanne, na Suíça, onde foram apresentados os projetos das quatro cidades finalistas: Rio, Chicago, Madri e Tóquio.

Mais uma vez, Meirelles foi bastante convincente na defesa da candidatura brasileira, o que deixou o país com grandes chances para o anúncio definitivo, em Copenhague, na Dinamarca, quando o Rio finalmente foi escolhido como cidade-sede dos jogos olímpicos de 2016.

Caso seja confirmado, Meirelles terá sob sua responsabilidade um quadro de pouco mais de 480 funcionários, de acordo com a Medida Provisória 503, que tramita no Congresso com a instituição de um protocolo de intenções para constituir a Autoridade Pública Olímpica. Pela MP, a remuneração da Autoridade Olímpica é R$ 22,1 mil, mais baixa, portanto, que a do ministro (R$ 26,7 mil). O diretor-executivo terá remuneração de R$ 21 mil, enquanto o diretor técnico terá vencimentos de R$ 20 mil. São salários, na avaliação do governo, compatíveis com os da iniciativa privada e têm o objetivo de atrair profissionais experientes.

Caberá à Autoridade Olímpica, de acordo com a medida provisória, a tarefa de integrar os esforços dos governos federal, estadual e municipal para a coordenação dos serviços públicos; implementar e entregar toda a infraestrutura necessária à organização e à realização dos Jogos; aprovar e monitorar as obras e os serviços que compõem a Carteira de Projetos Olímpicos, ou seja, todos os projetos que, de alguma forma, tenham repercussão sobre os compromissos assumidos pelo Brasil junto ao COI.