Título: Inflação aumenta custo de produção no país
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2011, Especial, p. A16

De Buenos Aires

Apesar do câmbio nominal desvalorizado, que atrai turistas brasileiros às ruas de Buenos Aires, a inflação chega ao quinto ano seguido com índice de dois dígitos - os economistas preveem pelo menos 25% em 2011 - e tem aumentado os custos das indústrias instaladas na Argentina. Esse problema vinha sendo atenuado pela desvalorização gradual do peso, que mantinha os custos em dólares mais ou menos estáveis.

Em 2010, no entanto, a moeda argentina se depreciou em apenas 5%, levando-se em conta termos nominais. Neste ano, segundo o orçamento do governo, deve passar dos atuais 4 pesos para 4,10 por US$ 1, na média.

Estudo recente da Fundação Mediterrânea, um centro de estudos financiado pela iniciativa privada, demonstra que o custo unitário do trabalho - medido em dólares - disparou nos últimos três anos.

No período compreendido entre os terceiros trimestres de 2007 e de 2010, esse custo subiu 12,8% por ano na Argentina e 10,7% por ano no Brasil.

As razões são bastante diferentes. Enquanto no Brasil o fator de pressão tem origem na extrema valorização do real, o encarecimento da mão de obra na Argentina deve-se à alta dos salários nominais, que subiram 26,1% ao ano, em média. Isso significa que o aumento real foi bastante discreto e comido rapidamente pela inflação.

Para as empresas, no entanto, os custos em dólares sobem porque a desvalorização do peso não é suficiente para contrabalançar o forte reajuste de preços de toda a economia.

Empresários como o presidente do grupo Techint, Paulo Rocca, têm reclamado publicamente da perda de competitividade da Argentina nos últimos anos, queimando a "gordura" criada pela megadesvalorização de janeiro de 2002, quando chegou ao fim a paridade cambial de 1 por 1 com o dólar. (DR)