Título: Empresas nacionais mostram reação
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2011, Especial, p. A16

De Buenos Aires

Hoje um argentino comum pode levantar-se e fazer seu desjejum comendo alguns biscoitos da Kraft Foods (ex-Terrabusi). Veste sua calça jeans confeccionada por uma das empresas têxteis brasileiras - responsáveis por 80% da produção de denim do país - e avisa o chefe, pelo celular da Telecom Argentina (da Telecom Italia), que talvez chegue atrasado.

Abastece o carro em um posto de gasolina da YPF (controlada pela espanhola Repsol) e passa no caixa eletrônico do banco Santander Río. Almoça um bife de chorizo processado em um frigorífico da JBS ou da Marfrig.

Para beber, serve-se de uma tradicional Quilmes, fabricada pela Ambev. À noite, depois de um dia inteiro de trabalho, põe um tênis da Alpargatas (comprada pela Camargo Corrêa) para jogar bola com os amigos.

Há 15 ou 20 anos, tudo isso podia ser feito com empresas argentinas, mas o simples resumo de atividades cotidianas mostra como a economia passou a mãos de companhias estrangeiras nas últimas duas décadas. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), as companhias não financeiras de capital estrangeiro representavam, entre as 500 maiores do país em 2009 (último dado disponível), 79% da produção, 75% do lucro, 68% dos salários e 63% dos empregados.

A boa notícia, para os nacionalistas argentinos, é que o processo de estrangeirização da economia perdeu fôlego e até esboça uma reversão. A ministra da Indústria argentina, Débora Giorgi, uma das principais defensoras do protecionismo da indústria comemora. Havia 170 empresas de capital argentino entre as 500 maiores, em 2007, mas o número subiu para 176, dois anos depois.

De qualquer forma, ainda segundo o Indec, um empregado de uma dessas companhias nacionais ganha, em média, 5.246 pesos (US$ 1.311) por mês. Enquanto, se formos olhar para o salário médio em uma empresa estrangeira, ele alcança 6.564 pesos (US$ 1.641).

Atualmente, multinacionais são responsáveis por 91% da fabricação de cimento na Argentina; 80% do mercado de cervejas; quase 70% da revenda de combustíveis; e, por fim, 20% do processamento de carnes na Argentina. O frigorífico Marfrig, por exemplo, é dono da marca Paty - que, no país, é sinônimo literal de hambúrguer. (DR)