Título: Os custos de captação do banco já caíram
Autor: Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2011, Finanças, p. C1

Antes vice-presidente do Bradesco, José Luiz Acar Pedro chegou ao BTG Pactual em dezembro para "fazer um pouco de tudo". Já estava "jogando bola", como ele mesmo diz, cuidando das filiais do BTG pelo país, entre outras atribuições, quando o PanAmericano cruzou seu caminho. Ao ser convidado por André Esteves para se juntar ao time do BTG, ainda não havia um projeto para o varejo. Sua presença no banco, entretanto, foi oportuna. Acar assumirá a presidência do PanAmericano, com a missão de turbiná-lo.

Valor: Em que momento o BTG entrou nessa negociação?

José Luiz Acar : Nós conhecemos muito bem o pessoal do grupo (Silvio Santos), do FGC e da Caixa e quando acharam que tinham que fazer um negócio, pelo que soube, foi um consenso que seríamos um banco para ser consultado.

Valor: E quando foi isso?

Acar : Nos procuraram uns dez dias atrás.

Valor: Quando a notícia do novo rombo saiu, então, já estavam em conversações?

Acar : Sim.

Valor: O BTG comprou o PanAmericano de porteira fechada? Sem conta gráfica, sem garantias?

Acar : O contrato tem garantias normais, algumas provisões.

Valor: Se aparecer alguma coisa nova, o risco é dos srs.?

Acar : A princípio, é. Mas estamos muito tranquilos com o trabalho feito por FGC, Deloitte, Price e Banco Central. A expectativa agora é que o banco, depois de limpo, terá muito pouco ativo. Ou seja, não tem nem muito ativo para ter fraude, o que nos dá conforto.

Valor: A taxa de 110% do CDI que vai corrigir os R$ 450 milhões é relativamente alta. Qual a conta?

Acar : A taxa de 110% é muito acima do nosso custo de captação, no BTG, mas muito abaixo da captação do PanAmericano. Temos uma opção, podemos pagar ou não antecipadamente essa dívida. O PanAmericano vai render mais que isso. O retorno sobre o patrimônio será de 20% a 30% ao ano, como qualquer banco de varejo.

Valor: E em que momento acharam que tinham um negócio interessante na mão?

Acar : Quando tivemos certeza que o balanço estava saneado. Some-se a isso a parceria estratégica com a Caixa, uma linha de funding num acordo de cooperação com a Caixa. Fez todo sentido abrir uma quarta linha de negócios no banco. Uma plataforma independente com um parceiro estratégico.

Valor: Mas o aporte final do FGC é que garantiu que estava saneado. Isso já era dado?

Acar : Sim, era muito mais do que sinalizado, era um compromisso. Não haveria nem conversa. Não tem sentido transferir o banco sem ser saneado.

Valor: Já existia plano de entrar no varejo antes?

Acar : Isso já havia sido discutido no banco antes, mas o movimento não havia sido feito porque o quebra-cabeça não havia se fechado.

Valor: Os senhores já mapearam o que deve ser feito para ajustar a operação, que era deficitária?

Acar : Tem algumas frentes. Tem que ganhar produtividade. Com certeza, a competitividade em termos de custo de funding. O banco tem uma captação inadequada.

Valor: Está muito cara? De quanto estamos falando?

Acar : Dá para fazer uma redução importante do custo de captação e trazer para algo em linha com os competidores dele.

Valor: Com isso o banco passa a ser rentável? Porque a tese é que o banco tinha perdas operacionais e a fraude visou encobri-las.

Acar : É difícil falar do passado, mas em junho já não havia performado bem, mesmo com as coisas que eram feitas.

Valor: E na parte de geração de carteira [ativo], o que farão?

Acar : A equipe de geração de negócio é muito boa, vamos reforçar o que for necessário. Vai diminuir a necessidade de ceder carteira. No começo ainda vamos ceder para testar. Mas a médio e longo prazo a ideia é reter. Esse negócio de varejo, não tem muito segredo. A margem é apertada, então tem que ter muita eficiência operacional. Eu tenho tanto de produção, que sustenta determinada despesa e determinado custo de captação. Essa equação não é sofisticada. E precisa de escala. É preciso ter agilidade e eficiência operacional. O lojista lá na ponta vai ter que ter agilidade, preço competitivo. E não estava tendo, porque não tinha investimento em TI.

Valor: O banco vai fazer esses investimentos?

Acar : Como fazemos no BTG, onde temos orçamento anual de R$ 60 milhões a R$ 70 milhões.

Valor: Quando o sr. imagina que o banco estará rodando como deve?

Acar : O quanto antes. Sorte que a nova diretoria já vinha fazendo um bom trabalho. Ficamos muito bem impressionados.

Valor: O sr. assume como CEO, o que acontece com o restante da diretoria? Continua?

Acar : Por enquanto, sim. O FGC indicou gente de mercado que foi para lá. A Caixa indicou gente muito boa, os melhores talentos deles.

Valor: E no conselho de administração, quem vão indicar?

Acar : Provavelmente Roberto Salute, André Esteves, Marcelo Kalim e Totó [Antonio Carlos Porto Filho]. Maria Fernanda, presidente da Caixa, continuará como presidente do conselho. A Caixa é uma parceira excepcional.

Valor: A parceria com a Caixa ainda não rodava para valer...

Acar : Estava começando. Tem muito o que explorar ainda.

Valor: O preço que o BTG pagou, comparado com o que a Caixa pagou um ano atrás. Alguém pagou caro ou alguém pagou barato. O que justifica tamanha diferença?

Acar : O rombo.

Valor: A Caixa pagou caro diante do fato de que o rombo já estava lá?

Acar : Difícil falar sobre isso. São momentos distintos.

Valor: Mas o BTG também está entrando num banco saneado, como a Caixa acreditava que era.

Acar : A geração de caixa desse banco lá atrás era maior.

Valor: Sim, no papel era. E quais as áreas de atuação pretendidas?

Acar : Por enquanto é "middle market" e crédito ao consumo com especialização em veículos.

Valor: E o crédito imobiliário?

Acar : É uma coisa para futuro, a ser discutida com a Caixa, para ver o que faz sentido para ela.

Valor: A classificação de risco do banco vai refletir essa troca de controle imediatamente?

Acar : Não vejo razão para não acontecer. O custo de captação já caiu.