Título: BC busca maior volatilidade no câmbio
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2011, Finanças, p. C2
Ao aumentar o ritmo e a variedade de atuações no câmbio, o Banco Central (BC) quer somar volatilidade ao mercado e, assim, dificultar a vida daqueles que buscam ganho fácil especulando com a moeda brasileira.
Essa é mais uma versão que tenta explicar o fato de autoridade monetária ter ampliado as intervenções neste começo de ano.
Tal linha de raciocínio parte do pressuposto de que a baixa oscilação no preço de um ativo facilita a vida do especulador. Então, ao contrário do que parte do mercado pensa, essa corrente avalia que o BC atua sem o intuito velado de defender pisos ou tetos para a cotação da moeda americana.
Tudo o que BC não quer é tirar volatilidade do mercado, pois isso tornaria o comportamento da moeda muito previsível.
Fora isso, ao somar novos instrumentos, como swap reverso sem consulta prévia de um dia e as compras a termo, o BC aumenta o grau de imprevisibilidade de suas ações, algo que joga a favor da própria autoridade monetária.
Ainda dentro desse entendimento, não haveria nada de muito mirabolante nos instrumentos atualmente utilizados pela autoridade monetária.
A simplicidade seria a chave da atuação do Banco Central. Os leilões à vista drenam excesso de moeda no mercado à vista. O swap reverso visa conter os ânimos no mercado futuro. E os novos contratos de compra a termo oferecem uma alternativa aos ingressos corporativos e dão a chance de bancos e empresas se entenderem sem a necessidade de recorrer ao mercado futuro (veja mais sobre a compra a termo na página C10).
Vale lembrar, no entanto, que existem inúmeras versões e teorias sobre as atuações do BC no mercado à vista, futuro e, agora, a termo.
Alguns acreditam que o BC atua apenas para não ser criticado pela Fazenda e pela sociedade. Afinal, o mercado sabe, assim como a própria autoridade monetária, que não há impacto no preço. Também há o grupo que enxerga certo movimento indutor do BC na formação da taxa, pois estaria mirando controle de inflação via câmbio. Há ainda aqueles que enxergam tudo isso como uma grande conspiração para favorecer os bancos.
No fim das contas, cada um abraça a sua teoria e a defende como lhe convém.
Ainda no câmbio, mas em uma ceara mais palpável. O BC apresenta, hoje, o fluxo cambial até o dia 28 de janeiro.
Mantida a estratégia de atuação observada até o dia 21, de comprar dólares em quantidade inferior ao fluxo, o BC terá permitido aos bancos reduzir ainda mais sua posição vendida no mercado à vista.
Até o dia 21, o estoque vendido das instituições financeiras estava em US$ 13 bilhões, recuando dos US$ 16,78 bilhões registrados no encerramento de 2010.
Confirmada tal expectativa, os bancos ficarão ainda mais próximos (se não já atingiram) o "limite" de posição de US$ 10 bilhões almejado pelo BC.
Vale lembrar que no dia 6 de janeiro a autoridade monetária tomou medidas para conter o crescimento dessas posições vendidas no mercado à vista.
O BC determinou que os bancos devem recolher como depósito compulsório 60% sobre a posição de câmbio vendida que exceder o menor dos seguintes valores: US$ 3 bilhões ou patrimônio de referência.
Cabe lembrar, também, que o BC deu prazo até 4 de abril para que as instituições se enquadrassem à nova regra. Com os bancos se aproximando dos US$ 10 bilhões em posição vendia não é possível descartar a possibilidade de que o BC possa "convidar" as instituições a reduzir ainda mais essa posição. No entanto, esse tipo de consideração deve esperar até abril.
Olhando o pregão de terça-feira, o dólar comercial marcou novo dia de baixa ante o real. A moeda caiu 0,59% e fechou a R$ 1,664 (veja gráfico abaixo), mesma cotação de 4 de janeiro e maior apenas que o R$ 1,651 da abertura do ano.
O dólar também perdeu fôlego para o euro e outras moedas. A moeda comum europeia retomou a linha de US$ 1,38, algo que não acontecia desde novembro do ano passado.
Olhando os juros, a curva segue carregando quatro elevações de 0,5 ponto percentual na Selic. Uma já concretizada e outras três por vir.
Ontem, os contratos encerraram o dia em baixa, devolvendo os ganhos da abertura. (veja gráfico abaixo).
Segundo operadores, um grande banco estava mal posicionado e remontava posições depois de uma aposta "errada". Sabendo disso, o restante do mercado entrou no jogo e colocou as taxas para cima.
Com esse grande agente encerrando seu ajuste de posição, o restante dos participantes também desarmou suas apostas. Com isso, a curva perdeu inclinação.