Título: Notícia do rombo influenciou decisão do Copom
Autor: Lima, Aline
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2011, Finanças, p. C2

O Banco Central (BC) interrompeu o ciclo de aperto monetário no segundo semestre do ano passado e surpreendeu o mercado. A expectativa era de um ciclo de alta de juro mais longo e mais forte. O BC teve motivo para abreviar esse ciclo, mas até agora as razões não são claras. A situação do PanAmericano era mais preocupante que o ritmo da atividade? Outros bancos estavam em risco? O calendário político influenciou a decisão? Ou o BC simplesmente se deixou iludir pelas taxas negativas de inflação em julho e agosto?

O Banco PanAmericano - sacudido por fraude revelada somente em 9 de novembro, com a divulgação de um aporte de R$ 2,5 bilhões do acionista controlador, o grupo Silvio Santos, com dinheiro de empréstimo junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC).- tornou-se personagem de destaque no mercado financeiro que viu frustrada a expectativa de aumento mais expressivo da Selic em 2010.

A frustração levou economistas e operadores a colocar em xeque a avaliação tranquila do BC quanto às pressões que poderiam, mais adiante, desviar a inflação do centro da meta, como foi confirmado. Grandes bancos chegaram a cogitar um aperto monetário capaz de levar a Selic ao patamar de 13% em dezembro passado. O juro subiu, mas nem tanto. Encerrou o ano a 10,75%, nível alcançado na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em julho - exatamente quando o PanAmericano entrou no radar do BC. Em setembro, a Selic entrou em estabilidade que durou até o mês passado.

Pouco confiante no cenário traçado pela autoridade monetária, o mercado operou no escuro durante alguns meses de 2010 - período em que se estabeleceu um "cabo de guerra" entre o BC e o mercado sobre projeções para a evolução da Selic. Mas em 25 de novembro, o então presidente do BC, Henrique Meirelles, surpreendeu economistas reunidos na instituição em São Paulo, quando relatou que os problemas na contabilidade das operações de crédito no PanAmericano foram considerados pelo Copom meses antes, na reunião de julho, exatamente quando o ciclo de aperto monetário, iniciado em abril, teve seu desfecho.

Outro fato inédito, vídeo com as declarações de Meirelles durante a reunião de economistas - evento trimestral para coleta de informações usadas pelo BC para arrematar o Relatório de Inflação - foi publicado no site da instituição na internet. Uma semana depois, em 3 de dezembro, o BC lançou medidas macroprudenciais para o sistema bancário. Basicamente, aumento de depósito compulsório sobre depósitos à vista e a prazo e de requerimento de capital para operações de crédito às pessoas físicas com prazo superior a 24 meses. As medidas, com foco em risco de crédito, passaram a ser consideradas, adicionalmente, complemento à elevação da taxa Selic. Ainda em dezembro, o BC passou a emitir sinais claros de que o juro básico voltaria a subir. E subiu. Em janeiro deste ano.

"O relevante é que o BC tinha a informação já para o Copom de julho e, certamente para o de setembro, de que tinha um problema", afirmou Meirelles, de acordo com vídeo da reunião publicado na página do Banco Central em novembro passado. De acordo com o ex-presidente do BC, o problema no PanAmericano era um "risco importante" para as condições de crédito futuras, dependendo de como fosse equacionado.

Segundo Meirelles, no vídeo de novembro, é importante considerar que o BC tem muitas vezes de informações que não estão disponíveis para o mercado. As atas das reuniões do Copom de julho e de setembro não traziam nenhuma menção a riscos para as condições de crédito. A fraude no Banco PanAmericano foi revelada somente em 9 de novembro, com a divulgação de um aporte de R$ 2,5 bilhões do acionista controlador, o grupo Silvio Santos. Segundo Henrique Meirelles, então no comando do BC, demorou algum tempo até [que a autoridade monetária] dimensionasse o problema e verificasse que o impacto estava concentrado em apenas uma instituição.