Título: Para manter controle sobre Furnas, PMDB cede direção
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2011, Política, p. A7

O PMDB está disposto a negociar com a presidente Dilma Rousseff para manter o controle de Furnas. O partido nomeou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para conversar com a presidente e o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, e evitar que o partido perca o controle sobre uma estatal que investiu R$ 1,2 bilhão em 2010.

Após a crise na estatal, agravada por um suposto dossiê entregue pelo secretário municipal de Habitação do Rio, Jorge Bittar, ao ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, Dilma decidiu trocar toda a diretoria atual e substituí-la por nomes técnicos. Flávio Decat, funcionário de carreira da estatal com passagem por Itaipu, passou a ser um dos cotados.

Escolhido pela bancada pemedebista para interceder junto à Dilma, Lobão levará a mensagem partidária de que Furnas é uma empresa estratégica para o partido e teve seu comando indicado pela bancada fluminense da legenda na Câmara. Um interlocutor da cúpula partidária não vê problemas na insistência da presidente em trocar o atual presidente, Carlos Nadalutti, indicado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mas deseja que o partido possa indicar outras opções, respeitando os critérios técnicos exigidos pela presidente.

As negociações para a composição do segundo escalão do setor elétrico devem ser retomadas a partir da próxima semana. O PMDB quer definir não apenas nomes, mas uma regra de convivência com o PT e o governo para que os atritos e disputas ocorridas no início do ano não tumultuem novamente a relação entre os dois partidos.

O próprio episódio de Furnas é sintomático, na visão de alguns pemedebistas. Para eles, a briga de Cunha foi restrita ao PT do Rio, mas os petistas locais levaram a crise para o governo federal. A tropa de choque pemedebista resolveu "isolar" o parlamentar do Rio, afirmando que o embate local não era suficiente para contaminar a aliança nacional. A estratégia não deu certo e Dilma e Palocci acertaram com o vice-presidente Michel Temer uma "intervenção" na diretoria de Furnas.

Apesar da disposição de retomar o diálogo para evitar a perda de postos estratégicos no setor elétrico, o PMDB sabe que esta será uma tarefa complicada. Dilma tem repetido incessantemente que aceita indicações políticas desde que respeitem os critérios técnicos. "Vamos indicar pessoas do quadro de pessoal de Furnas", prometeu uma liderança pemedebista. Pesa, contudo, o conhecimento que Dilma tem do setor. "Ela trabalhou na área no Rio Grande do Sul e foi ministra de Minas e Energia antes de ser nomeada chefe da Casa Civil. Ela sabe quem é quem no setor elétrico", resumiu um integrante da cúpula pemedebista.

Nos últimos dias, cresceu a possibilidade de Flávio Decat assumir o comando da estatal. Antes cotado para substituir José Antônio Muniz Lopes na presidência da Eletrobras, Decat é homem de confiança da presidente Dilma. Ciente disso, Lobão já procurou aproximar-se do técnico, afirmando ter uma boa relação com ele. "Dilma e eu confiamos em Decat", afirmou o ministro de Minas e Energia.