Título: Governo quer investigar inflação de serviços
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2011, Brasil, p. A2

Intrigado com o comportamento da inflação de serviços, que desde 2005 vem subindo bem acima da variação média do IPCA, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sugeriu ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que esmiuçasse esse setor para identificar se há algo a fazer do lado da oferta.

Em 2010 o IPCA fechou em 5,9%, enquanto os preços dos serviços no índice aumentaram 7,62%. No auge da crise global, em 2009, a variação do IPCA foi de 4,3%, e a dos serviços, 6,37%. Para 2011 a expectativa não é diferente, o que torna mais difícil o controle da inflação e sua convergência para o centro da meta de 4,5% (que deverá ocorrer só no próximo ano).

Pimentel é o ministro que tem sob sua pasta os três setores - indústria, comércio e serviços - e um estudo mais acurado desse último poderia encontrar, por exemplo, restrições de oferta, barreiras de entrada em determinados segmentos ou problemas de regulação, onde o governo possa agir abrindo mais o mercado.

O que preocupa é a aceleração dos aumentos de preços

É verdade que esse não é um fenômeno local. A inflação de serviços tem sido maior do que os núcleos de inflação nos países emergentes - por mudanças de hábito de consumo que afetam os preços relativos - e é um fenômeno natural nos países desenvolvidos. O problema se torna preocupante, porém, quando os preços dos serviços entram num processo de aceleração, como ocorre no país há praticamente seis anos, e é importante estabelecer a relação desse comportamento com o mercado de trabalho e com o hiato do produto.

A inflação de serviços passou de 5,17% em 2007 para 7,62% no ano passado e a expectativa do mercado é que repita, neste ano, a performance de 2010, mesmo se a variação do IPCA ficar abaixo dos 5,9% do ano passado, mais próxima de 5%. A taxa de desemprego no país é de 6% e o governo já fala em 5,5% para este ano, o que caracteriza como uma situação de pleno emprego. E a perspectiva é de que o PIB, que deve ter esbarrado em 8% no ano passado, caia para a casa dos 5% este ano.

"A inflação de serviços é a mais genuína inflação de demanda", observa o economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos. Para ele, assim como sugerem economistas do governo, a pressão sobre os preços dos serviços veem do aumento real do salário mínimo nos últimos anos, do aquecimento da economia e, não menos importante, da inércia. Nesse último, educação e aluguéis, que têm seus preços indexados à inflação passada, são os casos mais relevantes.

Para se ter uma ideia do grau de descolamento dos preços dos serviços - setor que responde por cerca de 24% do IPCA - no grupo da habitação, o preço da mão de obra subiu 10,56% no ano passado, e o de serviços de mudanças, 12,9%. No de transportes, o aumento foi de 15, 79 % para lavagem e lubrificação dos veículos, e de 10,66% o preço do estacionamento.

É no segmento das despesas pessoais, contudo, que os aumentos foram mais pesados. Nesse, alguns dos maiores foram: preços de ingressos para jogos, 31,1%; depilação, 13,9%; e empregado doméstico, 11,81%. Habitação, educação e empregado doméstico têm peso de quase 15% na inflação de serviços.

Os especialistas em inflação não esperam muito de uma eventual avaliação mais detalhada do Ministério do Desenvolvimento sobre o setor de serviços. Acreditam que o raio de ação do governo nessa área é pequeno. Caberia, nesse caso, algum estímulo oficial para aprofundar a desindexação, principalmente dos aluguéis, que são corrigidos anualmente pelo IGP-M ou pelo IPCA.

Além disso, mencionam a política de reajuste do salário mínimo dos últimos quatro anos, o baixo desemprego e o aquecimento da economia como os principais elementos de pressão sobre esses preços.

Nesse aspecto, um temor já se antecipa. Mesmo que o governo consiga segurar o aumento do salário mínimo em algo muito próximo dos R$ 545, para 2012 já há um reajuste previsto de 13% a 14%, decorrente do crescimento do PIB de 2010.

Uma ação mais estrutural que seria de imensa valia para impedir a aceleração da inflação de serviços é a qualificação de mão de obra. Nessa, há muito o que fazer e o papel do governo não é desprezível.