Título: Dilma impõe Decat na presidência de Furnas ao PMDB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2011, Política, p. A9

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou na tarde de ontem que Flávio Decat será o novo presidente de Furnas. A decisão deixou os pemedebistas da Câmara revoltados com o governo, em especial, a bancada do Rio. Decat é uma escolha pessoal da presidente Dilma e tira poder do grupo ligado ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A nomeação também desequilibra a correlação de forças no PMDB, pois Decat circula melhor entre os senadores do partido do que entre os deputados. Com isso, pelo menos até o momento, os senadores pemedebistas ligados ao presidente da Casa, José Sarney (AP), comandam a Eletrobras e Furnas.

Mas as negociações políticas que culminaram com o anúncio de Decat também fragilizaram Lobão. Nem tanto pelo futuro presidente de Furnas, mas pela decisão presidencial de trocar todas as diretorias. O Valor apurou que Lobão levou ao governo uma lista com sugestões para as diretorias sem consultar previamente o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e o líder do governo na Casa, Romero Jucá (RR). "Não dá para apresentar indicações sem passar por estas duas lideranças", contou um aliado do governo.

Lobão afirmou, em entrevista no Palácio do Planalto, que caberá ao futuro presidente de Furnas a tarefa de indicar os demais nomes da diretoria. "Ele acabou de ser confirmado como presidente. Ele ainda deve se reunir para sinalizar quais os nomes que vão compor a diretoria", disse o ministro.

As negociações para definir a futura diretoria de Furnas criaram mais um capítulo na crise de relação entre o PT, o PMDB e o governo. Na noite de quarta-feira, pouco depois das primeiras reuniões de deputados e senadores no Congresso, a cúpula partidária esteve com o vice-presidente Michel Temer e o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, em reunião que entrou pela madrugada, na casa do vice. No encontro, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que não aceitava a indicação de Decat e defendeu que a escolha coubesse à bancada do partido na Câmara.

O atual presidente de Furnas, Carlos Nadalutti, é afilhado político do deputado Eduardo Cunha. Além da estatal, que executou no ano passado um orçamento de R$ 1,2 bilhão, o grupo tem ascendência sobre o fundo de pensão Real Grandeza. Os deputados admitiam a possibilidade de tirar o comando de Furnas de Eduardo Cunha, desde que a bancada fluminense - a maior do partido na Câmara - fosse compensada com outros cargos no governo federal. Henrique Alves insistiu que a decisão sobre a troca da diretoria deveria passar pelos deputados.

Dilma estava disposta a trocar toda a diretoria e acabar com os apadrinhamentos políticos na estatal. Ela irritou-se com duas semanas de notícias negativas envolvendo a empresa, com base em um suposto dossiê entregue pelo secretário de municipal de Habitação do Rio, Jorge Bittar, ao ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio.

A reunião terminou por volta da 1h30, sem acordo. Ontem, Temer almoçou novamente com lideranças pemedebistas para tentar reverter o incômodo. No início da tarde, o vice-presidente encontrou-se com Lobão, Palocci e a presidente Dilma, quando o nome de Decat foi sacramentado. "Furnas é emblemática demais para o governo. Como são os Correios e como é a Infraero. Dilma não terá condescendência com irregularidades nestas empresas", disse um auxiliar da presidente.

Decat é funcionário de carreira de Furnas e homem de confiança da presidente. Já trabalhou na Eletronuclear e atualmente é vice-presidente do Grupo Rede de Energia. Ele estava cotado para assumir a presidência da Eletrobras no lugar de José Antônio Muniz Lopes Filho, aliado de Sarney. Dilma ainda procura um nome para substituir Muniz Lopes.