Título: Procon é ignorado
Autor: Braga, Gustavo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 03/08/2010, Economia, p. 12

Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) constatou que 60% da população que recebe até dois salários mínimos desconhecem o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon). Ironicamente, é exatamente essa parcela da população que eleva as taxas atuais de consumo. Dados do instituto de pesquisa Data Popular mostraram que, pela primeira vez neste ano, a massa de renda das famílias da classe D vai ultrapassar a da classe B. Na outra ponta, para quem ganha acima de dois salários mínimos, o percentual de respostas afirmando que conhecem ou já ouviram falar do órgão de defesa do consumidor varia entre 95% e 98%.

Mesmo entre as faixas de renda mais altas, onde o Procon é mais conhecido, apenas 19% dos entrevistados declararam já ter usado os seus serviços.

Segundo Luciana Gross Cunha, coordenadora da pesquisa da FGV, quanto maior a renda e mais alta a escolaridade, maior a procura pelo instituto.

Os moradores das capitais e das regiões metropolitanas também usam mais o serviço do que os moradores do interior. Enquanto nas regiões metropolitanas o índice de conhecimento é de 96%, no interior, cai para 90%.

Diferença Em meio à falta de conscientização quanto aos próprios direitos, as famílias com ganho mensal entre R$ 511 e R$ 1.530 têm para gastar com produtos e serviços em 2010, segundo o Instituto Data Popular, R$ 381,2 bilhões, ou 28% da massa total de rendimentos de R$ 1,380 trilhão.

Enquanto isso, a classe B, cuja renda varia de R$ 5.101 a R$ 10.200 por mês, vai ter R$ 329,5 bilhões à disposição.

O maior potencial de compras R$ 427,6 bilhões está concentrado na classe C. A coordenadora da pesquisa afirma que, apesar do alto poder de compra quando considerada a massa salarial, sob o ponto de vista individual, o poder aquisitivo é o que faz a diferença quanto ao uso dos instrumentos de defesa do consumidor. Para questionar, é preciso ter acesso às mercadorias. Com exceção das pessoas que recebem até dois salários mínimos, quase a totalidade da população conhece o Procon.

Isso é um sinal positivo e serve de alerta para as empresas saberem que, em caso de desrespeito aos direitos do consumidor, há um instituto sério para defendê-los, comentou Luciana. (GHB)