Título: MG abandona tom de confronto para atrair mineradoras
Autor: Felício, Cesar
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2011, Brasil, p. A5

O tom de confronto com as mineradoras, que marcou a política mineira nos últimos anos e que se acentuou no processo eleitoral do ano passado, pode acabar. A nova secretária estadual do Desenvolvimento de Minas Gerais, Dorothea Werneck, indicou que o governo mineiro está disposto a estabelecer uma nova relação com o setor.

"Me surpreende a maneira crítica com que se vê aqui a atividade da mineração. Ela é uma riqueza de nosso Estado. É inexplicável acreditar que Minas está em um processo de espoliação. Há várias formas da atividade mineradora contribuir com o Estado, além do pagamento de royalties e de tributos. Muitas vezes esquecemos que há várias áreas de conservação ambiental que foram mina até pouco tempo atrás", comentou a secretária, ex-ministra do Trabalho no governo Sarney e de Indústria e Comércio no governo Fernando Henrique.

O discurso a favor da revisão da cobrança de royalties municipais e a pressão para que as mineradoras, sobretudo a Vale, anunciassem projetos que agregassem valor às exportações do Estado permeou o debate eleitoral em 2010, em especial o da oposição ao governador mineiro Antonio Anastasia (PSDB). Em sua campanha, Anastasia acusou seus adversários de serem superficiais ao tratar do tema, mas evitou se expor em relação ao assunto. A mineração e a siderurgia concentram cerca de 90% do valor dos investimentos anunciados entre 2009 e 2010 para o Estado.

Para Dorothea, a cobrança para que mineradoras façam investimentos siderúrgicos quebra a lógica da decisão de investimentos. "Eu parto da premissa de que a decisão de fazer o investimento é da empresa, e apenas dela. O governo entra apenas no momento em que o investidor está escolhendo onde e como investir", comentou.

Na sua visão, "é óbvio que agregação de valor é uma verdade em si mesma, desejável para todas as cadeias produtivas: a da soja, a do reflorestamento, a de outros minérios como o calcário e o nióbio. Por que devemos ficar centrados na questão do minério de ferro? Será que a única medida para o investimento em Minas Gerais é botar siderurgia aqui dentro?", indagou. Segundo Dorothea, o assunto foi discutido recentemente entre ela e o governador Anastasia, "que compartilha integralmente desta visão", segundo disse.

O governo de Minas adota uma nova inflexão em relação ao tema mineral em um momento de perspectivas de alta da commodity de ferro no mercado internacional por um prazo longo e em que conglomerados do setor siderúrgico estão ampliando seus investimentos em mineração, como são os casos da CSN, Arcelor Mittal e Usiminas. Os três grupos anunciaram ou estão realizando projetos de grande porte em Minas. Há uma tendência das empresas em dividir os ativos minerais dos siderúrgicos. A Vale não desenvolve projetos de siderurgia em Minas, mas pretende operar a mina de ferro Apolo, em Caeté, um empreendimento de R$ 4 bilhões que está em fase de licenciamento ambiental.

Segundo Dorothea, todos os grandes projetos siderúrgicos em Minas estão tendo seus protocolos de investimento revisados. "É importante lembrar que o setor siderúrgico foi o principal afetado pela crise econômica global entre 2008 e 2009 e provocou uma brutal perda de arrecadação em Minas. A crise começou a passar em 2010, mas acarretou um redimensionamento de tudo o que estava sendo planejado. Poderá mudar, conforme o caso, a localização dos investimentos ou o produto a ser fabricado", comentou.

Além da mineração, a secretária aposta em outras frentes para garantir a geração de empregos, principal promessa de campanha de Anastasia. Dorothea começa a articular com a Secretaria de Transporte um projeto para construir terminais de carga em dois aeroportos do interior do Estado. Um deles será para atender a produção irrigada no Jaíba, norte de Minas, atualmente escoada pelo aeroporto de Confins. A maior dificuldade é que a maior parte dos aeroportos aptos no Estado são de propriedade federal, o que limita a modelagem para parcerias com o setor privado.

Economista que ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG em 1967, na mesma turma da presidente Dilma Rousseff, com quem não teve convivência à época, Dorothea foi a segunda mulher a se tornar ministra de Estado, ao assumir a pasta do Trabalho em 1988. Depois de ser derrotada ao disputar como vice na chapa de Pimenta da Veiga (PSDB) ao governo de Minas, em 1990, tornou-se secretária de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco e ministra da Indústria e Comércio nos dois primeiros anos do governo Fernando Henrique. Entre 1996 e este ano tornou-se consultora do setor exportador. Foi diretora da Apex até o início do governo Lula. Entre seus clientes no setor privado, estiveram o Banco Santander, a trading chinesa Minmetals e entidades patronais, como a Associação dos Exportadores Brasileiros AEB).