Título: Secretário busca convergências com Brasil antes da visita de Obama
Autor: Geithner, Timothy
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2011, Especial, p. A14

De São Paulo

O secretário do Tesouro americano, Tim Geithner, exerceu à vontade seu estilo diplomático no início de sua visita ao Brasil. Elogiou a "liderança excepcional" na condução da política econômica, qualificou o país de "uma das mais importantes potências financeiras do mundo" e concluiu que os interesses do Brasil e dos Estados Unidos estão "fundamentalmente alinhados", ao responder perguntas de uma plateia de estudantes e jornalistas reunidos na Fundação Getúlio Vargas paulista. Esse foi um dos capítulos públicos de sua missão, a de aparar arestas com o Brasil para a próxima reunião do G-20 e sinalizar convergências um mês antes da visita do presidente Barack Obama ao país.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, também na chefia rotatitiva da União Europeia, está causando alvoroço no G-20 com suas propostas de conter a volatilidade das cotações das commodities, uma ideia que tem virtualmente o dom de transformar-se também em controle de preços. A posição americana é similar à brasileira - contra a especulação e contra os controles artificiais.

Depois de afirmar que estava trabalhando em contato estreito com os franceses, Geithner reconheceu, porém, que "não está claro para mim o que os franceses, na verdade, estão propondo". O Brasil pode assinar tranquilamente em baixo das palavras do secretário americano. "A ênfase das discussões é na supervisão, para que tenhamos um nível de transparência e proteção contra manipulação, que são básicos para a integridade de qualquer mercado", disse.

Antes de se encontrar com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ele evitou o uso do termo cunhado pelo seu congênere brasileiro, "guerra cambial", mesmo quando perguntado diretamente sobre o assunto. Geithner não acredita nisso, e sim em desequilíbrios causados por países, como a China (escassamente citada por ele), que mantêm sistemas cambiais rígidos. Ao contrário do que crê Mantega, Geithner não vê a política monetária americana como parte da questão, e também não mencionou o afrouxamento monetário praticado pelo Federal Reserve Bank (o banco central dos EUA), como uma das causas da apreciação do real, que para ele são outras. Uma delas, é o sucesso econômico brasileiro, que dá aos investidores a perspectiva de "poderem encontrar no país maiores retornos do que podem obter mundo afora".

A outra, resultado da herança econômica do país, são as altas taxas de juros, "maiores do que precisariam ser" e que, embora cadentes, ainda são suficientes para atrair investidores em busca de alta rentabilidade. E, por fim, a China, que passa a conta de sua moeda desvalorizada para os demais emergentes. Uma saída, para Geithner, são as reformas fiscais, que "retirariam alguma pressão dos fluxos de capitais" que ingressam no Brasil. (JRC e SL)