Título: Conclusão da Rodada Doha é tema de conversas com Dilma e Mantega
Autor: Geithner, Timothy
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2011, Especial, p. A14

Discordância sobre o que fazer com a moeda desvalorizada da China e sintonia na oposição à proposta francesa de aumentar o controle do mercado de commodities marcaram os encontros do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, com autoridades brasileiras ontem, em Brasília. Geithner ouviu do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que o Brasil é contra a manipulação de taxas de câmbio, mas insinuou que a questão não pode ser vista apenas pelo lado da China, já que a política monetária dos Estados Unidos também provoca turbulências na economia mundial.

Geithner disse nos encontros em Brasília que os EUA não avançarão na política de "afrouxamento quantitativo", pela qual o Federal Reserve, o Banco Central americano, comprou US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro, derramando dólares na economia mundial. Os sinais de recuperação econômica tornam dispensável novas medidas do gênero, assegurou. Ele não chegou a pedir diretamente do Brasil apoio no G-20, o grupo das economias mais influentes no mundo, para pressionar a China a valorizar a própria moeda.

Geithner conversou por quase uma hora e meia com Mantega, teve reuniões com a diretoria do Banco Central e foi recebido pela presidente Dilma Rousseff, com quem falou por 40 minutos. Nos encontros, insistiu em um tema que nem sequer é de sua alçada, a necessidade de conclusão da Rodada Doha. Dilma e Mantega aproveitaram para dizer que o Brasil precisa elevar as exportações aos EUA.

O governo quer aumentar a parcela de mercadorias manufaturadas na pauta de exportações aos EUA e demais parceiros, insistiu Dilma, segundo o porta-voz, Rodrigo Baena Soares. Tanto os brasileiros quando Geithner concordaram que há mais declarações do governo francês sobre a necessidade de controlar os preços das commodities mundiais, por meio do G-20, que propostas concretas sobre a mesa. Dilma reiterou que não se pode enfrentar os desequilíbrios no mercado de alimentos com mecanismos artificiais de controle de estoques. Mas, se a França, que preside o G-20, sugerir medidas restritas ao mercado financeiro para coibir especulações, poderá até receber apoio, avaliaram Mantega e Geithner.

O secretário do Tesouro, ao sair do encontro com Dilma, disse estar "muito confiante" na possibilidade de trabalhar com o Brasil por "um sistema econômico global estável, forte e mais equilibrado e multilateral". Disse que o presidente dos EUA, Barack Obama, tem "grande expectativa" em relação ao seu encontro próximo com Dilma. "Temos certeza que podemos trabalhar juntos", afirmou. Um dos temas em que poderá haver maior cooperação bilateral é o da "energia limpa", informou. A viagem faz parte dos preparativos para a visita de Obama ao Brasil, em março. (Colaboraram Paulo Tarso Lyra e Azelma Rodrigues)