Título: Dilma cobra explicações para interrupção no NE
Autor: Goulart, Josette; Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2011, Brasil, p. A3

A presidente Dilma Rousseff convocou ontem pela manhã uma reunião com as principais autoridades do setor elétrico para ouvir explicações mais convincentes sobre o apagão que deixou, na sexta-feira, 4,6 milhões de pessoas sem luz na região Nordeste. Pouco antes do início da reunião, um novo apagão, dessa vez na cidade de São Paulo, deixou 2,5 milhões de pessoas sem energia.

Dilma estava irritada com a justificativa apresentada pelo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, que afirmou que uma falha do cartão de proteção da subestação de Luiz Gonzaga, em Pernambuco, havia causado o blecaute.

Logo cedo a presidente da República telefonou para o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão e, posteriormente, para todas as autoridades do setor, querendo saber se o apagão da semana passada - o primeiro ocorrido em seu governo - tinha sido provocado por falha humana ou por defeito no sistema.

Na entrevista de Zimmermann, o cartão de proteção da subestação aparecia como responsável pelo apagão, mas ele afirmou não entender as razões da falha, já que "a manutenção do cartão estava rigorosamente em dia, segundo nos informou a Chesf ", disse. No fim da reunião de ontem, o presidente da Chesf, Dilton da Conti Oliveira, informou que os trabalhos para descobrir as causa do blecaute não haviam sido concluídos ainda.

Os dois blecautes ocorreram no momento em que a presidente mostra seu poder de influência direta no setor elétrico, nomeando para a presidência da holding Eletrobras e da subsidiária Furnas pessoas da sua mais estrita confiança: José da Costa Carvalho Neto e Flávio Decat, respectivamente. Eles substituíram apadrinhados do PMDB, especialmente o ex-presidente de Furnas Carlos Nadalutti Filho, indicado pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Decat foi anunciado pelo ministro de Minas e Energia na quinta-feira, após a decisão de Dilma de trocar toda a direção de Furnas para estancar a crise gerada por denúncias contra a antiga direção. Na segunda-feira, Lobão anunciou José Carvalho Costa na Eletrobras, substituindo José Antônio Muniz Lopes Filho, afilhado político do presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP).

As mudanças devem estender-se às outras subsidiárias do setor. Dilton da Conti Oliveira não vai permanecer à frente da Chesf. A tendência é que a presidente Dilma negocie um novo nome com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

No caso da Eletrosul, a escolha caberá ao PT. Alguns setores do partido defendem a nomeação de Carlos Vignatti, candidato derrotado do PT ao Senado pelo Estado de Santa Catarina. Mas aliados do atual presidente da estatal, Luiz Mescolotto, alegam que abrir uma discussão sobre mudanças na empresa atiçaria o PMDB, que pretende vingar-se da perda de espaço nas outras subsidiárias do setor elétrico.