Título: Medidas vão ajudar a conter demanda na economia
Autor: Romero, Cristiano; Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2011, Brasil, p. A3

A inflação ainda vai piorar antes de melhorar, avaliam importantes economistas do governo. Eles alertam, porém, que os efeitos fiscais do corte de R$ 50 bilhões no gasto público federal, anunciado ontem, será potencializado por vários outros fatores que ajudarão a reduzir a demanda agregada da economia e, portanto, as pressões inflacionárias.

Os altos investimentos das três esferas de governo no ano passado, impulsionados pelas eleições, não devem se repetir este ano, sobretudo nos Estados onde os governadores acabaram de assumir. Na União, os investimentos em 2010 chegaram à cifra recorde de R$ 48 bilhões, com a maturação de vários projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O montante sobe para R$ 112 bilhões, considerando as empresas estatais. Como as obras do PAC 2 só agora devem começar, os desembolsos de recursos tendem a ser menores do que em 2010.

A isso se aliam o fim de todas desonerações de impostos concedidas no auge da crise global, que se esticaram ao longo do ano passado, e o término, também, do impacto dos aumentos de salários do funcionalismo público. Os reajustes da folha de salários foram pagos entre 2008 e 2010.

Segundo esses economistas, tudo isso se soma ao fato de que a atividade econômica já está num patamar mais desaquecido em relação ao ano passado, e às medidas prudenciais tomadas pelo Banco Central, além da própria elevação da taxa de juros. Nesse cenário, portanto, não se justificaria qualquer avaliação mais pessimista do mercado em relação à política fiscal anunciada ontem.

Há quem, no governo, tema, inclusive, que essa seja uma overdose de medidas anti-inflacionárias, capaz de derrubar a atividade econômica para um patamar inferior aos 5% em que ela já se encontraria agora.

O corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos deste ano, feitos em relação ao Orçamento aprovado pelo Congresso, segundo essas fontes, é contracionista no que se refere ao gasto de custeio, mas não em relação aos investimentos públicos. Esses têm que prosseguir - ainda que num ritmo mais modesto do que foi no ano passado - para que a economia possa responder às pressões inflacionárias, não só com redução da demanda, mas também aumento da oferta.

Para essas fontes, o IPCA ainda será ruim nos próximos dois meses. O próximo IPCA-15 deve assustar, mas é possível esperar que a inflação comece a ceder a partir de abril. A expectativa é que a inflação encerre o ano na casa dos 5%, acima do centro da meta de 4,5%, mas dentro do intervalo de tolerância.