Título: Caminhos virtuais
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2011, Especial, p. F1

Agilidade, flexibilidade nos negócios e redução de custos de infraestrutura são os grandes motivadores das empresas brasileiras que trilham o caminho da computação em nuvem, (cloud computing em inglês), o sistema de tecnologia da informação que pretende transformar por completo o atual modelo de venda de hardware e software. Muitas soluções de negócios, como correio eletrônico, aplicações de colaboração e até mesmo de relacionamento com os clientes (CRM- Customer Relationship Management) já estão rodando em ambientes de nuvens públicas e privadas. Os clientes recebem os serviços sob encomenda e pagam menos do que se tivessem que comprar sistemas e equipamentos. Mas a inquietação com o aspecto de segurança permanece como uma das principais barreiras à integração na nuvem dos processos críticos das corporações. "A segurança é um tema ainda muito polêmico. A empresa que pretende adotar o modelo precisa conhecer de fato para onde está migrando, para ter tranquilidade de colocar suas informações no novo ambiente. Se não fizer essa mudança adequadamente, corre o risco de invasão ou vazamento de dados", admite Wagner Tadeu, diretor-geral da Symantec, um dos maiores fornecedores mundiais de soluções de segurança.

Com mais de 2,1 mil funcionários, onze filiais em cinco Estados e um faturamento anual acima de R$ 340 milhões, a T-Systems do Brasil, unidade de serviços corporativos da Deutsche Telekom, considera a variável segurança um complicador no avanço da computação em nuvem em grandes empresas brasileiras. "As grandes companhias querem um padrão exclusivo de segurança, adaptado às suas necessidades. Isso dificulta os entendimentos, apesar dos bons atrativos de preço que o cloud computing oferece. As negociações são complicadas e os clientes demoram mais a enxergar a necessidade de colocar parte de suas aplicações críticas de negócios em cloud, deixando o restante em casa", diz Dominik Maurer, presidente da subsidiária brasileira.

A tendência, no entanto, é de aceitação do novo modelo, seja por projetos experimentais, como prova de conceito, em áreas específicas da empresa, seja por meio de utilização de cloud para determinadas aplicações, como e-mail e colaboração. O Brasil está à frente da média mundial no uso de tecnologias como virtualização e cloud computing, segundo estudo mundial da Cisco, fabricante de equipamentos para redes de computadores. Pelo menos 27% das empresas brasileiras consultadas utilizam aplicações baseadas em cloud computing, enquanto que a média mundial é de 18%.

"Até pouco tempo, as empresas perguntavam o que era cloud computing e hoje querem saber de que forma adotar a tecnologia, porque entenderam sua importância e benefícios, como redução de custos e ganhos de flexibilidade e agilidade em TI", diz Marcelo Ehalt, diretor de engenharia da Cisco Brasil.

As nuvens públicas permitem criar um ambiente virtual, padronizado e automatizado, que oferecem serviços de infraestrutura tecnológica e de software, de baixo custo, já são bastante disseminadas. Trata-se de um serviço de massa, que atende um número grande de clientes como no caso da Amazon e do Google. "Temos um nível de uso de internet no Brasil bastante alto e diversos casos de sucesso que usam nossa infraestrutura de computação em nuvem", diz Antônio Schuch, diretor de enterprise do Google para a América Latina. Trata-se de uma estrutura monumental, segundo ele.

Só no último trimestre de 2010, a Google investiu cerca de US$ 750 milhões em infraestrutura física. A empresa é o quarto maior fabricante mundial de computadores, mas só produz para si mesma. Detém um volume de 10% de todo o tráfego mundial da internet. E o Google Apps, seu serviço de cloud, conta com 3 milhões de empresas usuárias. Desse total, 7% estão na América Latina. "Temos um poder de computação praticamente infinito, compartilhado com centenas de milhares de consumidores, diariamente. Propomos dividir essa infraestrutura com as empresas."

Um dos parceiros da Google no Brasil é a integradora Dedalus, com mais de 80 clientes com soluções de cloud computing na nuvem da provedora mundial. "O mercado já aceita soluções de computação em nuvem com bastante naturalidade", diz Maurício Fernandes, presidente da Dedalus. Em 2010, o percentual de contratos para solução de cloud computing, principalmente oferta de sistemas de mensagens, colaboração e segurança, atingiu 40% do faturamento da empresa, em torno de R$ 15 milhões. "Em 2011, nossa receita deve ultrapassar R$ 20 milhões, e a participação de cloud computing deve alcançar 60%."

Em relação às nuvens privadas - infraestrutura tecnológica para uso exclusivo de uma empresa -, a aceitação ainda não é tão ampla. Mas as oportunidades de negócios são favoráveis, diz Maurer, da T-Systems. "Qualquer empresa que queira avançar no Brasil vai ter que entrar no jogo da computação em nuvem por causa das vantagens de preço, velocidade e estrutura tecnológica que ajudam a fazer melhores negócios." Segundo ele, a expectativa é chegar a um faturamento de R$ 1 bilhão, nos próximos três anos, dos quais R$ 400 milhões com cloud computing.