Título: Para enfrentar chineses, UE reduz preço de máquina exportada
Autor: Watanabe, Marta
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2011, Brasil, p. A4

A grande oferta internacional de produtos industrializados fez cair os preços de bens de capital e produtos intermediários importados pelo Brasil de seus principais fornecedores. Os preços médios dos intermediários comprados da China, Estados Unidos e União Europeia (UE) caíram entre 5% e 7,7% em 2010, na comparação com 2008, ano em que as importações também tiveram ritmo acelerado. A queda dos preços médios de bens de capital comprados da China foi pequena, de 1%, usando a mesma base de comparação. A redução de preço das máquinas e equipamentos comprados da União Europeia, porém, chegou a 10,5%. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

"Os fornecedores estão devolvendo uma parte dos aumentos espetaculares de preços que vimos em 2008", diz Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex. Ele lembra que 2008 foi um ano de forte importação brasileira, em função de uma economia interna aquecida. Diferentemente de 2010, porém, era um ano de forte demanda na economia internacional, com a produção geral no limite da capacidade, o que provocou níveis de preço acima do padrão.

Em 2008, lembra Ribeiro, o aumento de preços atingiu não só produtos industrializados, mas também as commodities. Em 2009, com a crise, houve queda de preços. No cenário pós-crise, em 2010, houve recuperação das commodities, mas o mesmo não aconteceu com os industrializados. Esses produtos, explica o economista, ainda continuam com excesso de oferta, o que ajuda a reduzir os preços de bens de capital e intermediários desembarcados no Brasil.

Com 60% de participação na pauta de importações brasileiras originadas da China, os bens intermediários desembarcados do país asiático ficaram 7% mais baratos no ano passado, na comparação com 2008. No mesmo período, também houve queda representativa nos preços dos intermediários comprados da União Europeia e dos Estados Unidos, com reduções respectivas de 5% e 7,7%. Os produtos intermediários representam mais da metade do valor importado pelo Brasil da zona do euro e dos americanos.

Os bens de capital, outro tipo de bem importante na pauta de importações com origem na China, Estados Unidos e UE, também ficaram mais baratos no período. André Sacconato, economista da Tendências, acredita que a redução do preço de intermediários e máquinas ocorreu em razão do excesso de oferta decorrente da queda de demanda por grandes mercados para esse tipo de bem. "Os Estados Unidos, por exemplo, ficaram quase um ano sem investimentos, o que reduziu o consumo de bens de capital e de intermediários."

A redução de preço de bens de capital originados da zona do euro, acredita Sacconato, também pode ser explicada pelo aumento da concorrência dos asiáticos, que se tornaram capazes de oferecer máquinas mais sofisticadas, tradicionalmente fornecidas pelos europeus. Em menor medida, diz o economista, o câmbio também teve influência. Com o euro mais desvalorizado em relação ao dólar em 2010, na comparação com 2008, houve maior margem para redução de preços pelos exportadores. Os bens de capital representam 23% do valor total exportado pelo bloco europeu ao Brasil. Das vendas chinesas ao país, essa fatia é de 22,3%.

"Os países da União Europeia registram no período inflação baixa, de forma geral, e países como a Alemanha, grande fornecedor de bens de capital ao Brasil, estão fazendo preços mais baixos para aumentar suas exportações", diz Ribeiro. Trata-se, afirma ele, de uma tentativa desses países de reduzir o impacto do encolhimento dos mercados. Apesar da queda, diz Ribeiro, os preços dos industrializados importados ainda estão altos em relação a 2007, antes da explosão de 2008. "Na verdade, os fornecedores estão se adaptando ao cenário atual e é difícil saber o ponto de equilíbrio, porque os países desenvolvidos, grandes consumidores de industrializados, ainda estão com desempenho fraco."

Segundo a Funcex, o preço médio do total das importações brasileiras deve ainda ter queda em 2011, com redução de 3% em relação ao ano passado. O decréscimo, porém, segundo Ribeiro, deve ter maior influência dos combustíveis. Para ele, o preço dos industrializados deve seguir tendência de acomodação.

Ribeiro leva em consideração que, apesar de lentos, há sinais de recuperação da economia americana, que deve crescer 3% este ano, na comparação com 2010. A zona do euro deve se expandir 1,5%. O efeito da acomodação de preços de industrializados deve mudar um pouco a influência das importações na inflação brasileira. Até o ano passado, lembra Ribeiro, a importação ajudou a segurar a inflação, devido à queda de preço dos produtos desembarcados e da valorização do real. "Este ano, a importação passa a ter uma contribuição mais neutra."