Título: Integração segue PSB e amplia atuação para Sul e Sudeste
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2011, Política, p. A11
O Ministério da Integração Nacional segue o partido que o comanda, o PSB, e planeja expandir seu campo de atuação do Nordeste para o Sul e Sudeste do país. O principal instrumento para isso é a recém-criada Secretaria Nacional de Irrigação, que terá por meta ampliar as áreas de irrigação privada e pública no país por meio de parcerias público-privadas e estímulos financeiros do governo e de organismos internacionais. "Estamos buscando o reposicionamento do ministério para que ele possa ter uma atuação mais nacional. Desejamos que ele tenha ações mais relevantes também no Sudeste, Sul e Centro-Oeste", afirmou ontem, ao Valor, o ministro Fernando Bezerra Coelho.
Nesta segunda-feira ele estará em um dos principais polos citrícolas do país, Araraquara (SP), onde se reunirá com representantes da Cutrale, a maior indústria de suco de laranja do mundo. Dali pretende sair com um rascunho de investimentos citricultura irrigável em Salitre (CE) e Salgueiro (PE). Também estão sendo desenhadas intervenções diretas em áreas com dificuldades de abastecimento de água no Rio Grande do Sul e na região metropolitana do Rio de Janeiro.
De acordo com ele, o país tem hoje 400 mil hectares de áreas públicas irrigáveis e 4 milhões de hectares de áreas privadas irrigáveis. Para dobrar esse dados até 2014, a aposta é em um fundo que será criado para as PPPs nas áreas públicas e contratos de financiamento com o Banco Mundial, e na atuação conjunta com outros ministérios, como o de Minas e Energia, para facilitar investimentos do setor privado, por exemplo, com benefícios nas tarifas de energia. O secretário de Irrigação será Ramon Rodrigues, até o ano passado secretário executivo da Secretaria de Recursos Hídricos do governo do Ceará.
"Queremos com isso animar os investidores para que possam participar dos editais de PPPs que pretendemos lançar até o final do ano", diz. No entanto, avalia que diante do ajuste fiscal que vem sendo implementado pela presidente Dilma Rousseff, este ano pode vir a ter enfoque maior na prospecção de projetos. "É evidente que a velocidade será dada nesse ambiente de espaço fiscal. Como haverá contenção de despesas, será um ano mais de identificar as oportunidades".
A estratégia de Bezerra no ministério é parecida à traçada pelo PSB nacional, cujo presidente, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é o responsável por sua indicação para o ministério. No primeiro mandato de Campos, entre 2007 e 2010, o ministro foi secretário de Desenvolvimento Econômico e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape (PE).
Seu perfil mescla o tecnicismo de sua formação em administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do gerenciamento dos empreendimentos de sua família com o viés político nas ações. Integrante de um dos mais tradicionais clãs do sertão pernambucano, foi eleito deputado federal e prefeito de Petrolina (PE) três vezes sempre em oposição ao grupo de Campos. Depois, contudo, aderiu a ele e se transformou em um de seus mais fiéis aliados. Hoje é o principal braço do governador no governo Dilma.
Ontem, o ministro recebeu o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), com quem o PSB tem mantido conversas no sentido de atraí-lo para a legenda. Segundo a assessoria do prefeito, a conversa foi sobre ações de prevenção e defesa civil na capital paulista. Há duas semanas, a audiência foi com o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM), outro que, assim como Kassab, tem sido sondado por Campos para deixar o Democratas rumo ao PSB.
A intenção de ampliar a atuação do ministério está, todavia, longe de eliminar a prioridade da Pasta de focar as ações no Norte e Nordeste do país, onde, aliás, está a base política do seu partido. Além da criação da Secretaria de Irrigação, foi criada também uma Secretaria de Fundos e Investimentos, que será ocupada pelo presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco na gestão de Eduardo Campos, Jenner Guimarães. O objetivo dessa secretaria é aproximar o ministério dos bancos federais de desenvolvimento regional, como o Banco da Amazônia (Basa) e o Banco do Nordeste (BNB).
Ambos são responsáveis pela gestão do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE) e do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA) que, por não serem constitucionais, têm seus recursos como alvo de contingenciamentos pelo governo. Outro problema é o rígido regramento desses fundos que desestimula sua utilização pelo setor privado.
"Queremos eliminar as dificuldades inclusive para dar concretude ao papel da Sudene e da Sudam, que cuidam da destinação desses recursos", disse Bezerra.
Ele disse que os dois órgãos precisam de uma reestruturação, pois estão enxutos devido à não aprovação do plano de cargos e salários e, por outro lado, há dificuldades na utilização dos recursos dos fundos. O novo modelo ilustrará a implementação da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), já prevista em lei, mas que aguarda sair do papel.