Título: Resolução petista defende cortes e manutenção da política para mínimo
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2011, Especial, p. A16

O diretório do PT aprovou ontem uma resolução defendendo a manutenção da política do salário mínimo, os avanços econômicos e sociais conquistados durante os oito anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e a necessidade de aprofundamento destas políticas durante a gestão Dilma Rousseff. O partido, reunido em Brasília para comemorar os 31 anos de sua fundação, tomou todos os cuidados para afirmar que os cortes de R$ 50 bilhões anunciados na véspera no orçamento não são fruto da "herança maldita" deixada por Lula. "Não estamos analisando esta questão com base no passado. Estamos tendo uma visão de perspectiva diante do risco inflacionário, decorrente, sobretudo, de uma pressão sobre o preço dos alimentos", afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

Para os integrantes do diretório nacional, o déficit nas contas públicas brasileiras não decorre do aumento dos gastos internos, mas de um agravamento no cenário internacional, diante de ações de países como a China e os Estados Unidos para revitalizar suas economias. "Chineses e americanos não esperaram as eleições brasileiras para defender suas moedas", completou o secretário de comunicação do PT, o deputado André Vargas (RS).

Secretário Municipal de Habitação do Rio, o deputado federal licenciado Jorge Bittar, declarou ser natural que, em um início de gestão, os governos tomem medidas mais austeras para recuperar posteriormente o nível nos investimentos. "Não estamos falando de uma redução no volume dos investimentos, já que os programas sociais e o PAC foram preservados", completou.

Um dos coordenadores da campanha presidencial de Dilma, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra (SE), negou que o anúncio de um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento seja um ajuste fiscal, hipótese que foi rechaçada por ele e Dilma durante a disputa eleitoral do ano passado. "Ajuste fiscal, no passado, significava tirar recursos da economia e impedir obras e investimentos. Tudo isto foi preservado no anúncio de ontem [quarta-feira]", declarou.

O presidente do PT assegura que, durante a reunião do diretório nacional, não foi debatida a disputa por espaços no governo, sobretudo a guerra acirrada entre PT e PMDB pelos cargos do segundo escalão. Mas na resolução aprovada por unanimidade está explícito que "a unidade da base de sustentação do governo supõe que todos os partidos tenham acesso às responsabilidades da administração. Mas esta participação se fará sempre com base nas grandes orientações programáticas e em critérios de capacidade política, técnica e de probidade dos indicados".

Pivô da disputa pelo comando de Furnas, o secretário Jorge Bittar elogiou a decisão da presidente Dilma de nomear o engenheiro Flávio Decat para presidir a estatal. "A mudança precisava ser feita com urgência. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou que as denúncias se resumiram a uma disputa entre o PT e o PMDB fluminense. Não foi. Minha relação com o PMDB local é ótima, tanto que sou secretário do prefeito Eduardo Paes", declarou Bittar, responsável por levar ao ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, um dossiê com denúncias envolvendo a antiga direção de Furnas.

Os petistas também defenderam a discussão, este ano, da reforma política, mas o partido é contra a proposta apresentada pelo PMDB de implantar o chamado "distritão", segundo o qual os deputados mais votados nos Estados seriam os eleitos, independentemente dos seus partidos. "Isso fragiliza os partidos. O PT defende o voto em lista. Se o partido tiver 10% dos votos no Estado, terá 10% das cadeiras no Congresso", completou Bittar.

No documento aprovado ontem, o PT afirma que "a reforma política deve ter como objetivo a radicalização da democracia política e eleitoral como um caminho alternativo ao da criminalização e judicialização da política".