Título: Campanha em fogo brando
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 03/08/2010, Cidades, p. 25

Como diz a passagem bíblica: quem não tem pecados Se depender dos dois principais candidatos na disputa pelo governo não haverá a primeira pedra.

Os dossiês contra ambos os grupos existem. Mas ficarão estrategicamente guardados para só serem usados pelos adversários em último caso. O desejo dos concorrentes mais bem cotados nas pesquisas é manter a temperatura da campanha em fogo brando. Os tons provocativos e, eventualmente, mais agressivos, virão dos partidos menores, que vão aproveitar a propaganda eleitoral na TV e no rádio para marcar uma postura de oposição.

A propaganda eleitoral começa a ser veiculada a partir do dia 17 e ficará no ar até 30 de setembro, três dias antes das eleições.

Há dois horários reservados à campanha política, um entre 13h e 13h50 e o outro das 20h30 às 21h20. Na tarde de ontem, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) finalizou o cálculo de como se dará a distribuição do tempo entre candidatos e coligações.

A planilha contendo as informações detalhadas em milésimos de segundo será divulgada hoje.

O Correio apurou que Agnelo Queiroz (PT) terá 7´27´´81 a cada aparição no horário eleitoral.

É o concorrente mais bem aquinhoado em relação à programação política. Em seguida, vem Joaquim Roriz (PSC), com 5´39´´74. Depois aparece Eduardo Brandão do PV, com 1´3´´. Toninho do PSol terá 49 segundos e os outros três candidatos Newton Lins (PSL), Frank Svensson (PCB) e Rodrigo Dantas (PSTU) terão, cada um, 45 segundos.

O horário eleitoral é tido como o auge de uma campanha política. Momento em que os candidatos têm maior poder de abrangência e, por isso mesmo, concentram suas principais expectativas de crescimento. Nesse tipo de programação, são comuns os enredos de fogo cruzado, com ofensas, críticas e denúncias de parte a parte. Mas este ano, as duas coligações com maior tempo de TV prometem um cineminha eleitoral light.

Sem provocações.

Depois da avalanche de denúncias que varreu do cenário eleitoral uma geração de políticos, os candidatos temem o estilo mais agressivo de campanha e se apegam ao método que chamam propositivo. Vamos fazer uma programação de nível.

Sem ataques, porque temos de aproveitar o tempo para falar de projetos e de tudo o que Roriz já fez em quatro anos de governo, diz Paulo Fona, que coordena a área de comunicação do ex-governador. Com uma ressalva: Se formos alvo de ataques, responderemos na mesma medida.

Da mesma forma, o PT não quer partir para a briga logo de cara. Pretende usar os programas para divulgar o perfil de Agnelo, que terá a profissão de médico e a condição de ex-ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva sempre lembrados nos programas.

Guerra Fria A guerra fria prometida para as primeiras inserções dos candidatos do DF, no entanto, não é certeza de paz até o fim da campanha. A medida que as pesquisas indicarem a performance dos candidatos é natural que o clima fique mais tenso e que as críticas ou mesmo as denúncias comecem a aparecer.

Com menos tempo de televisão, os partidos menores, como o PSol, liderado na capital por Antônio Carlos de Andrade, o Toninho, que disputa o governo, devem adotar um tom acima na programação eleitoral. Queremos nos diferenciar dos outros partidos e temos estatura moral para isso, diz Toninho.

O PSol vai criar um slogan do tipo Aqui não tem mensaleiro e nem candidato ficha suja, mensagem que alfineta ao mesmo tempo a coligação de Agnelo e a de Joaquim Roriz. O terceiro candidato com maior tempo de televisão durante a campanha, Eduardo Brandão, avisa que fará uma campanha propositiva sem deixar de apontar as falhas dos adversários.

Não vamos entrar no esquema de dossiês, mas vamos apontar os pontos que nos diferenciam dos outros, sim, diz Brandão.

O tempo de televisão também será usado de modo didático para desfazer confusões não esclarecidas durante as caminhadas dos políticos. Um exemplo: nos quase 20 anos de vida pública, Tadeu Filippelli construiu à sombra de Roriz a própria turma de apoiadores.

Costuma ser reconhecido e até festejado em algumas cidades onde passa. O problema, para Agnelo, de quem Filippelli é vice, é que muitas pessoas ainda não sabem que ele não está mais ao lado de Roriz. O grupo do PT acredita que, durante a programação eleitoral, a mudança será sedimentada na cabeça do eleitor.