Título: Alta dos preços dos alimentos assusta já há algum tempo, mas poucos querem atacá-la de verdade
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2011, Internacional, p. A13
Financial Times
Em reuniões sociais, é bom encontrar um tema de interesse comum: o clima, por exemplo, ou o mais recente tropeço de uma celebridade. Quando os ministros das Finanças do G-20 se reunirem, na sexta-feira, em Paris, vão querer evitar muita discussão sobre guerra cambial. Em vez disso, poderão querer conversar sobre inflação. Hoje em dia, é um problema de quase todos.
Na China, os 4,9% de inflação nos preços ao consumidor em janeiro, foram um pouco menores do que esperado. Mas diversos números doeram: inflação de alimentos em 10%, alta da inflação anualizada de produtos não-alimentares de 2,1% para 2,6% num só mês, inflação de preços ao produtor em 6,6%.
Contra pressões inflacionárias desse tipo, a política de juros de 6,08% para empréstimos na China parece inadequada. Mas, ao negar a relevância da inflação, os chineses estão em ótima companhia.
O Banco de Inglaterra (banco central britânico) praticamente abandonou a luta no curto prazo. As autoridades americanas estão ignorando largamente tanto a queda incessante da taxa de desemprego como a taxa de inflação de 4,1% nos preços de atacado. E o Banco Central Europeu apenas murmurou, enquanto a inflação subiu de 0,9% para 2,4% nos últimos 13 meses.
As defesas apresentadas para a inação variam: não se trata do núcleo da inflação, é transitória, culpa de outros ou políticas anti-inflacionárias poderiam fazer mais mal do que bem.
Na China e em outros países em desenvolvimento, a preocupação é com que um ataque à inflação viria a retardar o crescimento e a criação do emprego sem atacar as limitações de recursos que estão puxando os preços dos alimentos. Na maioria dos países desenvolvidos, há também um temor financeiro: inflação baixa não ajudará a eliminar a carga de endividamento em economias já excessivamente alavancadas.
Se investidores e consumidores decidirem que a inflação elevada veio para ficar, os rendimentos de títulos e as reivindicações salariais vão crescer.
As autoridades econômicas seriam então confrontadas por uma escolha entre dois riscos inaceitáveis; inflação galopante ou uma política monetária que sufocaria a economia. Assim, ainda que todos os membros do G-20 discordem sobre até que ponto a inflação é realmente perigosa, eles estarão unidos em dizer ao mundo para que não nos preocupemos com isso.