Título: Por que a taxa de câmbio só anda de lado?
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2011, Finanças, p. C2

Reclamação constante nas mesas de câmbio é a baixa volatilidade do mercado. Em outras palavras, falta oscilação no preço do dólar, a cotação "anda de lado", temos um taxa muito previsível.

Agora em 2011, a volatilidade, medida estatística da variação de preço de um ativo em determinado tempo, está historicamente baixa.

No ano passado, a volatilidade do real fechou em 15%. Neste começo de 2011, a medida recuou para casa dos 8,5% a 9%.

Para dar uma ideia do que isso significa, essa VOL do real agora em 2011 é menor do que a do euro, que está na casa dos 13%. Isso vai contra a teoria econômica, segundo a qual ativos de mercados desenvolvidos apresentam menores variações de preços do que seus pares de mercados emergentes, que são mais incertos por natureza.

O assunto ganha certa importância, depois das recentes indicações de que a intenção do Banco Central (BC) ao aumentar e diversificar suas atuações no câmbio seria, justamente, aumentar a VOL do mercado e, assim, tornar mais difícil a vida dos especuladores.

No entanto, para alguns agentes do mercado de câmbio, essa queda da VOL, que também é acompanhada por uma redução dos volumes negociados, é reflexo direto da postura do Banco Central e do governo.

Vale lembrar das elevações de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) promovidas em outubro do ano passado e da elevação da alíquota do imposto para depósitos de margem na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Fora as outras medidas "fecha brechas" adotadas para dificultar a vida do capital estrangeiro taxado de "especulativo".

"Esse aumento do IOF inviabilizou o mercado para os estrangeiros. Fora isso, tem os custos da BM&F. Ficou caro operar aqui. Como tem alternativa de operar real contra dólar lá fora a um custo menor, não tem motivo para ficar operando aqui", disse um analista que preferiu não se identificar.

Cabe lembrar que as medidas são uma barreira tanto para quem vende dólares e compra reais, quanto para aquele investidor que compra dólares e vende moeda brasileira. Ou seja, pega quem aposta contra ou a favor do real.

Pelo lado do BC, a principal crítica é quanto a seu modo de atuação. A autoridade bem que tenta ser cada vez mais imprevisível, mas até a isso o mercado já se acostumou. O fato que está bem arraigado na consciência dos participantes é de que o BC atua em uma banda estreita de preço.

Existe a clara percepção, montada em função do histórico de atuação, de que o BC para de tomar dólares quando o preço ultrapassa R$ 1,70, e acentua suas investidas quando o dólar mira R$ 1,65.

É fato, também, que os operadores não compram o discurso oficial da autoridade monetária de que não existe piso ou teto para o dólar e que as intervenções buscam comprar excesso de moeda ou atender qualquer necessidade específica.

"Não importa o discurso que ele adote. O que o BC quer é segurar a taxa", disse um gestor que pediu anonimato.

Segundo esse mesmo gestor, o BC tenta ganhar tempo com suas intervenções, pois ele e o próprio mercado sabem que a deterioração das contas externas vai resultar em valorização do dólar mais adiante.

Essa não é uma estratégia errada, na visão do gestor, mas o BC poderia tornar suas atuações mais eficientes, seja tomando dólares a um preço superior ao praticado pelo mercado, seja adotando novas medidas de restrição à posição de bancos ou estrangeiros aliada a compras mais agressivas de moeda.

Segundo o economista-sênior para América Latina da empresa de análises de mercado 4Cast, Pedro Tuesta, baixa volatilidade significa que não há muito o que ganhar no "trading" (negociação do dia a dia), mas há vantagem para quem mantém posições.

"No fim das contas, isso incomoda os traders, pois eles ganham no giro do mercado, mas o resto do mercado fica feliz, em especial os especuladores que fazem a arbitragem de juros com pouco ou nenhum risco cambial", diz o especialista.

Para Tuesta é evidente que esse momento de baixa volatilidade é reflexo das atuações da autoridade monetária, ainda mais depois que o BC passou a atuar em toda a curva do câmbio, tomando dólares à vista, a termo e no mercado futuro.

"A única forma de aumentar essa volatilidade é reduzir a intervenção, ou deixar o mercado flutuar de fato. Mas outros problemas apareceriam", concluiu.

Ontem, foi mais um dia de baixa oscilação e baixo volume negociado no câmbio.

O dólar comercial variou R$ 0,006 entre máxima e mínima antes de fechar a R$ 1,67, leve alta de 0,05%.

Eduardo Campos é repórter