Título: Analistas projetam mais inflação e ciclo mais longo de juros
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2011, Brasil, p. A3

O mercado não acreditou na efetividade do corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos, anunciado pelo governo na semana passada, e as expectativas inflacionárias, que já estavam bem acima do centro da meta, de 4,5%, pioraram muito. Os economistas, agora, já esperam um ciclo mais longo de alta dos juros e um menor crescimento da economia em 2011.

No Boletim Focus desta semana, a projeção dos analistas e economistas para o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano aumentou de 5,66% para 5,75%, na décima alta consecutiva. Para os economistas que compõem o Top 5 (analistas que mais acertam as previsões), a inflação fechará o ano em 6,44%, perigosamente próxima do teto da meta estipulada pelo governo (6,5%).

Já há economistas que acreditam que a inflação romperá de fato o teto da meta no fim do primeiro semestre deste ano. Segundo avaliação de Laura Haralyi, do Itaú Unibanco, o IPCA de janeiro acumulou alta de 5,99% nos últimos 12 meses e seguirá pressionado em fevereiro, com variação de cerca de 0,80% para o fechamento do mês. O índice seguirá em alta até o início do segundo semestre, projeta o banco, atingindo em agosto 6,8%, acumulado em 12 meses, para fechar o ano em 5,8%.

As projeções para os índices gerais de preços (IGP) também mostraram forte alta na última semana. O IGP-M, que estava em 6%, passou para 6,28%, quinta alta seguida. O IGP-DI, saiu de 6% para 6,33% nessa semana. Para 2012, a inflação medida pelo IPCA esperada pelo mercado voltou ao nível de 4,7%, fora do centro da meta de 4,5%, depois de ter recuado para 4,61% na semana passada.

Como consequência da deterioração da inflação, o mercado já acredita que o aperto monetário iniciado pelo BC em janeiro terá de se estender até 2012. A Selic esperada para o fim do próximo ano passou de 11% para 11,25% ao ano.

Na avaliação da equipe econômica da corretora Lerosa Investimentos, o mercado de juros da BM&FBovespa no dia seguinte ao anúncio de cortes terminou com ligeira alta, pautado pela dúvida que persiste com relação ao ajuste fiscal e se ele será ou não suficiente para que o BC adote uma política monetária mais frouxa.

O mercado também refez suas projeções para o crescimento do PIB. Em linha com uma ação mais moderada dos gastos do governo, os economistas que respondem ao Focus reduziram suas expectativas de 4,6%, na semana passada, para 4,5% no boletim divulgado ontem.

Com relação à taxa de câmbio, também houve redução para baixo das projeções. O mercado acredita que a cotação do dólar encerra o ano na casa de R$ 1,7. Há um mês, a mediana das previsões apontava taxa de R$ 1,75. A revisão na taxa cambial carrega um ajuste nos preços das commodities, como aponta Maurício Molan, economista do banco Santander. Segundo ele, há uma forte relação entre câmbio e commodities que deve pressionar ainda mais a moeda brasileira. O Santander acredita em dólar a R$ 1,55 no fim do ano.

O Bradesco também revisou para baixo sua projeção para o câmbio, de R$ 1,7 para R$ 1,62. "A despeito dos controles impostos e do maior grau de intervencionismo no mercado cambial brasileiro, avaliamos que os fundamentos prevalecerão, o que inclui perspectivas melhores para a economia brasileira relativamente à média mundial", aponta o Departamento de Pesquisas Econômicas do Bradesco, em relatório.

O governo se comprometeu a explicar, nesta semana, como fará o corte de R$ 50 bilhões no gasto público, cifra que cai para R$ 32 bilhões considerando que o Congresso deverá perder R$ 18 bilhões de emendas parlamentares.