Título: China frustra acordo antidesequilíbrio
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2011, Internacional, p. A13

A China jogou ontem um balde de água fria na tentativa do G-20, grupo das maiores economias, de chegar a um acordo esta semana sobre indicadores para identificar e reduzir desequilíbrios externos insustentáveis na economia mundial.

O Valor apurou que a boa notícia é que Pequim pela primeira vez apresentou sugestões sobre elementos para apontar desequilíbrios no câmbio, no comércio, etc. A má noticia é que rejeita o que a maioria dos países parecia propensa a aceitar, buscando afastar ao máximo pressões para valorizar sua moeda.

Além disso, a China excluiu a possibilidade de um consenso em Paris dizendo que um acordo sobre os indicadores poderia ser alcançado na reunião seguinte, dos ministros de Finanças e bancos centrais em abril, em Washington.

Em Paris, a ministra de Finanças da França, Cristina Largarde, que vai presidir o encontro de sexta-feira e sábado, disse que "não será um drama" se um acordo não for alcançado nesta semana, mas que seu objetivo ainda é esse. Para ela, uma "postura política" dificultava avanços.

Em novembro, em Seul, a China e a Alemanha, que têm enormes superávits, rejeitaram proposta dos EUA pelo estabelecimento de um limite nos saldos ou déficits no balanço de contas correntes de 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para Washington, países com superávits deveriam estimular suas economias domésticas, poupar menos e gastar mais. E aqueles com déficits deveriam poupar mais e também exportar mais para reduzir o desequilíbrio.

Ao final, os líderes do G-20 concordaram em tentar reduzir desequilíbrios em excesso e manter as contas correntes em níveis sustentáveis.

Em janeiro, ao assumir a presidência do G-20, a França pediu aos países para apresentar suas sugestões sobre os indicadores que poderiam identificar os desequilíbrios, para correções.

A China, que até ontem era o único que não tinha feito propostas, insistiu que havia muita pressa por parte dos outros países, especialmente dos EUA e da Austrália. Ontem, enfim, colocou um papel na mesa recusando 2 dos 4 indicadores que têm mais apoio dos outros países: "contas correntes" e "taxa real de câmbio/reservas".

Pequim propôs que contas correntes sejam substituídas por um novo indicador chamado de "medida de sustentabilidade externa", que seria mais analítico, em vez de medir quantitativamente os desequilíbrios externos.

Os chineses rejeitaram qualquer indicador baseado em taxa de câmbio, notando que vários outros membros do G-20, incluindo África do Sul e Coreia do Sul tomaram a mesma posição.

Os outros dois indicadores que os chineses aparentemente aceitam são: posição financeira do setor público (déficit ou dívida) e do setor privado (poupança ou dívida).

Esses indicadores servirão para facilitar a identificação "de amplos desequilíbrios que precisam de ações preventivas e corretivas". Para os americanos, é a maneira de fazer a China acelerar a valorização de sua moeda. O atual nível do yuan é considerado um enorme subsidio à exportação para a indústria chinesa e assusta o mundo todo.

Agora segunda maior economia do mundo e segunda maior nação comerciante, a China acumulou reservas de US$ 2,85 trilhões ao final de 2010, três vezes mais altas do que o segundo colocado, o Japão.

Mas Pequim insiste que seu saldo em conta corrente, comparado a déficits gigantescos nos EUA e em outros grandes paises, não significa desequilíbrio provocado pelo comércio. Argumenta com a importância do "comércio processado", ou seja, o papel da China como importador de muitos componentes que servirão para a exportação do produto final.

Numa conferência na Organização Mundial do Comércio (OMC), vários especialistas de estatísticas concordaram que uma grande porcentagem das exportações chinesas, sobretudo no setor eletrônico, contém partes importadas e, de fato, se descontadas, o saldo comercial chineses cairia bastante.