Título: Temer sai em alta da negociação
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2011, Política, p. A6
Em sua estreia na disputa política com o Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff deixou a agenda presidencial o mais livre possível, ontem, para acompanhar de perto a votação do novo salário mínimo. Nas palavras de um aliado, "ela estava muito concentrada para evitar surpresas na sua primeira votação". Dilma ficou todo o dia de ontem em contato permanente com o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci e das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, pressionando para que as articulações prosseguissem para assegurar a vitória do governo. Os encontros oficiais terminaram antes das 18h, mas a presidente permaneceu no Planalto enquanto a votação transcorria no Congresso.
Embora em regime de mutirão, o dia de ontem foi um pouco mais tranquilo que a véspera [terça-feira], quando o governo montou um rolo compressor no Congresso envolvendo os representantes da equipe econômica - Guido Mantega e Nelson Barbosa - e Luiz Sérgio em reuniões constantes com parlamentares da base aliada e da oposição. Dilma enquadrou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, logo nas primeiras horas da manhã e o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, encontrou-se com o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), defensor de um mínimo de R$ 580.
A aposta no Planalto ontem era de quantos votos o PDT daria a favor do mínimo de R$ 545. O movimento da bancada pedetista, que decidiu liberar os deputados a votar da maneira que quisessem, não diminuiu a má impressão que a postura dúbia de Lupi causou ao núcleo político do governo. "Ele nos disse que tinha ascendência sobre o partido. Se ele tivesse mesmo, forçava o PDT a ir conosco. Não conseguiu", disse um auxiliar da presidente Dilma.
Os movimentos de Lupi e dos pedetistas foram acompanhadas de perto pelo governo. No início da manhã, o líder do partido na Casa, Giovanni Queiroz (PDT-PA) ligou para o ministro do Trabalho dizendo que a bancada se reuniria para deliberar sobre o tema. Quando foi tomada a decisão de que o voto estava liberado, Lupi afirmou que "era o melhor caminho, cada um votar com sua própria consciência". O alívio do ministro não repercutiu bem no Planalto. "É melhor ele entregar pelo menos 13 dos 27 votos dos deputados. Se não, não queremos nem pensar o que pode acontecer", disse um aliado palaciano.
Como adiantou ontem o Valor, Lupi não será demitido, mas perderá poder para compor o segundo escalão de sua pasta. Tampouco o PDT terá forças para propor a indicação do ex-senador Osmar Dias (PR) para ocupar algum cargo em Itaipu, vaga almejada por ele e pela legenda. Outro que também perdeu muito prestígio no governo foi o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). No segundo mandato do presidente Lula, ele foi um dos principais responsáveis por indicar nomes para o Ministério do Trabalho, gerando ciúmes junto à CUT por apresentar só nomeados oriundos da Força Sindical.
Um nome que sai em alta desta primeira votação é o do vice-presidente Michel Temer. Foi dele a ideia de apresentar um projeto de lei, ao invés de votar a medida provisória de R$ 540 em tramitação no Congresso, furando a fila das 10 MPs que trancavam a pauta da Câmara. Ele também sugeriu que o projeto fosse votado em regime de urgência urgentíssima, incluindo no texto um assunto de caráter penal - que não pode ser legislado por medida provisória - permitindo que o PL fosse votado em sessão extraordinária, sem passar pelos trâmites burocráticos de diversas comissões temáticas.
Ontem, Temer foi ao Congresso reunir-se com a bancada de seu partido. A pretexto de tratar da reforma política, disse aos seus correligionários que "este era o momento de o PMDB dar uma demonstração positiva de força e unidade". Para a presidente, estes movimentos ajudaram a apagar a imagem do início do ano, quando o vice-presidente era acusado de prestar mais atenção nas demandas de seu partido do que nos interesses do governo.