Título: Previsões aliam menos PIB e mais inflação
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2011, Brasil, p. A4

De São Paulo

Mais inflação, com menos crescimento. Essa combinação desfavorável passou a dominar as revisões de cenário para 2011 nas últimas semanas. As estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se aproximam e, em alguns casos, superam os já salgados 5,9% de 2010, enquanto algumas projeções de crescimento começam a cair para a casa de 4% ou até menos, muito abaixo dos 7,5% esperados para o Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado.

Pressão sobre commodities, resistência da inflação de serviços e aceleração dos preços administrados (como tarifas públicas) explicam as revisões para cima do IPCA neste ano, a despeito de um crescimento bem mais fraco. No caso do PIB, as perspectivas pouco animadoras para a indústria, o efeito combinado da alta dos juros, do maior esforço fiscal e das medidas de restrição ao crédito sobre a atividade e a expectativa de aumentos menos expressivos do emprego e da renda têm jogado para baixo as previsões para 2011.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, elevou de 5% para 6% a sua previsão para o IPCA neste ano. Segundo ele, as fortes pressões sobre commodities agrícolas hoje em curso foram o principal motivo para a revisão. Gonçalves aumentou de 6,8% para 10,7% a inflação prevista para alimentos e bebidas, mais que os 10,4% de 2010. Essa é uma parcela dos índices que pouco reage ao comportamento da atividade, diz ele. Gonçalves também trabalha com mais pressão sobre os serviços (como aluguel, condomínio, mensalidade escolar e empregado doméstico), dada a pesada herança da inflação de 2010 e o mercado de trabalho ainda aquecido. Ele elevou a projeção de 6% para 6,8%, o que já embute uma expectativa de desaceleração. No IPCA-15, os serviços acumulam alta de 8,4% nos 12 meses até fevereiro (ver mais abaixo).

Nesse quadro, a inflação mostra forte rigidez neste ano, a despeito da expressiva desaceleração esperada para a atividade econômica, diz Gonçalves. O economista, que sempre teve uma visão menos favorável para o PIB, rebaixou ligeiramente a sua estimativa de crescimento de 3,7% para 3,6%. No fim de 2010, Gonçalves já era mais cauteloso quanto à economia neste ano por acreditar que a política fiscal seria contracionista e pelo impacto da alta dos juros. Na nova projeção, ele incorporou, ainda que parcialmente, os efeitos das medidas de restrição ao crédito anunciadas em dezembro.

O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, também aumentou a sua projeção para o IPCA, mas tem um número mais benigno que o de Gonçalves, por apostar numa alta mais fraca de alimentos, de 6%. Romão estima uma variação de 5,3% para o IPCA, mais que os 4,7% esperados no fim de 2010. Segundo ele, a revisão se deveu principalmente às mudanças nas trajetórias para serviços e preços administrados. Romão aposta em elevação de 7,7% dos serviços, acima dos 6,5% estimados por ele no fim de 2010, e próxima dos 7,6% do ano passado. "A inflação desse grupo deve ser mais alta e mais resistente", diz ele, que vê pressões sobre itens em que a inflação passada tem grande peso, como aluguel.

O economista elevou a sua estimativa de 4,1% para 4,5% para os preços administrados, num quadro de alta forte no começo do ano das tarifas de transporte urbano, como ônibus e metrô. É um quadro diferente do de 2010, quando os administrados subiram 3,1%.

Com a pressão sobre os serviços e preços administrados, a redução da estimativa de crescimento da LCA, de 4,3% para 3,6%, não aliviou as previsões para a inflação neste ano. São itens com grau elevado de indexação, lembra Romão, acrescentando que há uma parcela de serviços muito sensível ao ritmo da demanda, mas que reage com defasagem a inflexões da atividade.

A expectativa de atividade mais fraca, porém, fez a LCA apostar num IPCA mais modesto em 2012 - 4,5%, e não mais 4,64%. O cenário pouco promissor para a indústria foi um dos motivos para a revisão do crescimento do PIB pela LCA, que acredita num impacto forte das medidas de restrição ao crédito sobre a economia, considerando ainda que a política fiscal ajudará a segurar a demanda.

A economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores, estima hoje um IPCA de 5,8%, depois de ter projetado 5,4% na virada do ano. Para ela, a piora da projeção para preços administrados foi um dos principais motivos para a mudança - em vez de 4,5%, ela hoje estima 4,9%, devido à alta das tarifas de transporte. Ela nota que no terceiro trimestre, no momento das datas-base de categorias importantes de trabalhadores, a inflação acumulada em 12 meses deverá estar acima de 6,5%. Isso pode levar a aumentos fortes de salários, pressionando ainda mais os serviços. A MCM projeta um crescimento de 4,5%, mas pode reduzir o número se a produção industrial de janeiro mostrar nova queda - em dezembro, houve recuo de 0,7% sobre novembro.

A economista Tatiana Pinheiro, do Santander, tem uma das previsões mais pessimistas para o IPCA. Há duas semanas, ela elevou a sua estimativa de 5,5% para 6,1%. As pressões sobre as commodities no mercado internacional a fizeram ter um quadro mais negativo para a inflação de alimentos e bebidas. Hoje, ela projeta alta de 9% para o grupo - antes, tinha 8%. Pressões adicionais em alguns preços administrados e serviços também colaboraram para esse movimento.

Na Tendências Consultoria, a projeção do IPCA, que no fim de 2010 estava em 5,5%, pulou para 5,9%. Os choques correntes sobre a inflação e a deterioração de expectativas levaram à alteração, segundo o economista Juan Jensen. Para ele, o PIB deve crescer 3,9% em 2011, e não mais 4,4%, por conta do cenário menos positivo para a indústria e para a massa salarial.