Título: PIB já cresce abaixo do potencial
Autor: Safatle , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2011, Brasil, p. A2

Economistas do governo identificam que o ponto máximo do crescimento econômico ocorreu no segundo trimestre de 2010. Desde então, apareceram os sinais de arrefecimento e o Produto Interno Bruto (PIB), ao contrário do que parece, já passou a crescer abaixo do seu potencial.

Eles avaliam que o gigantesco choque de preços das commodities jogou fumaça no cenário, dificultando as análises, mas a desaceleração do crescimento está instalada.

A alta dos preços das commodities contribuiu com pelo menos 1 ponto percentual da inflação do IPCA, de 5,9% no ano passado. A política fiscal expansionista, embalada pelas eleições presidenciais, teve forte impacto sobre os índices de inflação, contribuindo para que ela fugisse substancialmente do centro da meta de 4,5%.

Inflação só para de subir em fins de março, prevê governo

Nos prognósticos do governo - após um primeiro trimestre bastante difícil este ano, que está corroendo as expectativas dos mercados - entre o fim de março e o início de abril os preços devem parar de subir. É no primeiro trimestre que se materializam cerca de 40% da inflação dos preços administrados (transportes coletivos, mensalidade escolar, planos de saúde, entre outros). Passado esse período, os especialistas do governo acreditam que a temperatura deve baixar e, com ela, o pessimismo dos agentes econômicos.

Há uma certa tranquilidade na análise desses técnicos, que citam uma conjugação de fatores em curso para frear a aceleração dos preços movida pelo excesso de demanda.

A aprovação do salário mínimo de R$ 545 na noite de quarta-feira, pela Câmara dos Deputados, significa que quase 50% da força de trabalho do país não terá aumento real nos seus rendimentos este ano. Isso, por si só, vai ser um poderoso elemento para conter a inflação de serviços, que supera 7% nos últimos 12 meses.

As medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central em novembro já mostraram efeitos relevantes sobre a oferta de crédito em janeiro, com encurtamento dos prazos e aumento dos juros dos financiamentos ao consumo.

Entre março e abril do ano passado o BC retirou do mercado mais de R$ 100 bilhões, o governo suspendeu os incentivos fiscais concedidos no auge da crise global e entre o segundo e o terceiro trimestre o Copom elevou a taxa Selic em 200 pontos-base. Em janeiro, retomou o ciclo de aperto monetário com aumento de mais 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, hoje de 11,25% ao ano. A expectativa do mercado é que o Copom faça pelo menos mais dois aumentos de 0,5 pontos.

Soma-se a essas medidas o corte de despesas públicas em R$ 50 bilhões, conforme compromisso assumido pelo governo. Mesmo considerando que parte desse corte - R$ 18 bilhões - será sobre emendas parlamentares ao Orçamento da União feitas sem a correspondência de receitas, trata-se de uma iniciativa ousada.

Na próxima semana o governo vai mostrar onde fará os cortes de gastos. E se a decisão da presidente Dilma Rousseff for mesmo de cumprir a meta de 2,9% do PIB de superávit primário sem artifícios contábeis, não se deve subestimar o poder de controle da despesa na boca do caixa do Tesouro Nacional.

Mesmo com todas essas medidas jogando a favor do desaquecimento da demanda agregada, a inflação em 12 meses tende a ficar elevada até o terceiro trimestre e só então poderá começar a ceder. Nesse meio tempo, é possível que o IPCA chegue ao teto da meta de 6,5% (4,5% mais 2 pontos percentuais de margem de tolerância).

Na avaliação desses economistas, projeções de uma inflação mais comportada só são razoáveis a partir de julho/ agosto, já apontando para algo mais próximo do centro da meta em 2012. No relatório de Inflação de março o BC deve ajustar o prognóstico, feito com base nos cenários de mercado e de referência, que era de 4,8% no relatório de dezembro. Provavelmente, indicará um IPCA na casa dos 5% para 2011.

Tudo vai depender, porém, de uma variável sobre a qual o governo não tem domínio: os preços das commodities que podem continuar subindo, se estabilizar ou cair.

Claudia Safatle é diretora de redação adjunta e escreve às sextas-feiras.