Título: Fluxo de capital de US$ 1 tri vai pressionar emergentes
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2011, Internacional, p. A10
Na véspera da reunião ministerial do G-20, bancos internacionais previram que pressões sobre o câmbio e a inflação vão se amplificar em várias economias emergentes, no rastro do fluxo estimado de quase US$ 1 trilhão de capital privado que deve entrar nessas economias este ano, uma alta superior a 50% em relação ao fluxo de 2009.
Em seminário ontem, em Paris, calcado na agenda do G-20, o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, acrescentou que o cenário de forte alta de preços das commodities agrícolas e da energia poderá causar "grandes dificuldades" e inflação generalizada. E nota que a situação exige ações governamentais para cortar despesas, elevar juros e adotar política cambial mais flexível.
Com relação às economias desenvolvidas, o IIF vê sinais de pressão inflacionária "incipiente". E administrá-la será mais difícil que o normal, já que vários países precisam manter os juros baixos para ajudar a recuperação econômica e sistemas financeiros "frágeis" em meio à consolidação fiscal.
Por outro lado, a representação dos bancos calcula que os emergentes têm dívidas de quase US$ 2 trilhões a vencer este ano, mas a rolagem não terá problemas. Cerca de US$ 1 trilhão é divida soberana (títulos e empréstimos). Entre US$ 350 e 400 bilhões são bônus de empresas, e outros US$ 500 bilhões são empréstimos também do setor privado. Cerca de US$ 700 bilhões de dívidas da América Latina vencem este ano, sendo apenas 30% soberanas e o resto do setor privado.
No seminário que reuniu representantes de bancos centrais, de governos e de grandes bancos comerciais, o diretor da Área Internacional do Banco Central do Brasil, Luiz Pereira, reafirmou a posição do país de manter sua liberdade para adotar controle de capital.
"Existe grande liquidez internacional, e os fluxos de capital são atraídos pelos países que estão crescendo e com perspectivas boas", afirmou. "Há uma tendência para se tentar normatizar tipos de intervenção nos países recipientes, um tipo de cartilha sobre a maneira como os países deveriam administrar esses fluxos de capitais. Mas vemos isso com ceticismo."
Disse aos banqueiros que o Brasil vem adotando controle de capital de maneira responsável, usando essencialmente medidas macroprudenciais para evitar que o fluxo excessivo "tenha impacto indesejável sobre nosso mercado de crédito, de ativos".
A proposta brasileira no G-20 é de, em vez de se estabelecer de maneira específica quais devam ser os procedimentos para um país impor controle de capital, que seja melhor compartilhada a experiência dos países nessa questão.
Para o Brasil, normas para o controle de capital não são desejáveis porque podem acabar tentando colocar uma espécie de selo de aprovação para um país. "A solução tem que ser no multilateral, mas tentar um receituário pronto pode eliminar graus de liberdade que são necessários para os países conduzirem suas políticas em função do que estão observando em suas economias", afirmou Luiz Pereira.
O presidente do Banco Central do Canadá, Mark Camey, considerou "compreensível" a relutância de emergentes em aceitar que suas taxas de câmbio sofram o peso inteiro do ajuste global. Para ele, é "extraordinário" que as moedas do Bric - Brasil, Rússia, Índia e China, que representam a parte do leão no crescimento global e nas exportações - tenham se apreciado apenas 5% contra moedas do G-7.
Agustín Guillermo Cartens, presidente do BC do México, que enfrenta a forte concorrência externa e peso cada vez mais valorizado, conclamou os países da Ásia a terem taxas de câmbio mais flexíveis.