Título: PT cobra planos de Marta e Mercadante
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2011, Política, p. A10

O PT de São Paulo decidiu antecipar a discussão sobre a sucessão municipal. Ainda neste semestre, o partido espera obter uma resposta de Marta Suplicy e Aloizio Mercadante sobre a intenção de cada um deles em relação à disputa. A preferência é da senadora e do ministro da Ciência e Tecnologia. Mas o diretório municipal tem pressa numa definição a fim de ganhar tempo para preparar um nome novo no caso de os dois não estarem interessados em concorrer, como afirmam de público.

Mercadante passou a ser um nome bem avaliado no partido porque teve um desempenho considerado bom na eleição para o governo de São Paulo, quando por muito pouco não levou a disputa para o segundo turno. Com a exceção de José Genoino, que surfou na crista da "onda vermelha" da eleição de 2002, nenhum outro candidato do PT disputou o segundo turno de uma eleição estadual em São Paulo. O problema de Mercadante, além das razões pessoais, é que a presidente Dilma Rousseff quer "ministros de quatro anos" na sua equipe de governo.

É provável que Marta atualmente sofra mais resistência no PT municipal que Aloizio Mercadante, mas ela será a candidata, se responder positivamente à consulta do partido. Ela também nega a intenção de se candidatar, mas petistas avaliam sua movimentação recente como sendo a de alguém que se prepara para entrar na disputa. Este seria o caso, por exemplo, do empenho com o qual a ex-prefeita disputou a primeira vice-presidência do Senado com o colega José Pimentel (CE), inclusive criando uma grande área de atrito com os colegas de bancada.

Outro sinal de que Marta considera a prefeitura em seus cálculos políticos: numa conversa recente, ela reclamou de que foi induzida a aceitar como primeiro suplente, na eleição para o senado, um nome do PR (Antonio Carlos Rodrigues), quando ela chegou a pensar até em Antonio Palocci, ministro da Casa Civil. Enfim, um nome de peso que lhe desse discurso para deixar o Senado para assumir a prefeitura, caso fosse eleita.

Marta, segundo petistas, argumenta que a suplência não era condição indispensável para o PR ter apoiado a candidatura de Mercadante ao governo do Estado, na eleição de 2010. "Botaram uma canga em mim", disse a senadora a integrantes de seu grupo político em São Paulo. A posse de um suplente do PR passou, portanto, a constituir um entrave a mais para a eventual candidatura de Marta a prefeita, além da rejeição apontada pelos institutos de pesquisa de opinião.

Com exceção de Marta e Mercadante, a avaliação partidária é que não há um candidato natural e forte à Prefeitura Municipal de São Paulo. Nem no PT nem entre os tucanos do PSDB. Com problemas de enchentes, buracos nas ruas, recolhimento de lixo, passagem do ônibus e envolvido numa provável mudança partidária, o prefeito Gilberto Kassab também está vulnerável. Num quadro rarefeito como esse, "se cair no colo", Marta será candidata, segundo seus correligionários. Mas só neste caso.

Ocorre que os adversários estão se movimentando. Do ponto de vista do PT, é provável que o governador Geraldo Alckmin faça uma aliança com o PSB e lance a candidatura de Gabriel Chalita para a prefeitura. Outra opção seria a do deputado Bruno Covas, herdeiro do legado político do ex-governador Mário Covas. Além do PSB, Alckmin acena em direção de outro tradicional aliado do PT, o PCdoB. Kassab articula o lançamento do empresário Guilherme Afif Domingos.

A menos que Marta ou Mercadante concordem em disputar, o PT pode sair atrasado numa disputa que já se desenvolve nos bastidores, segundo o entendimento petista. O diretório não quer que Marta e Mercadante condicionem a aceitação do convite à posição dos candidatos nas pesquisas - os dois têm "recall" de outras eleições e fatalmente estarão na frente de qualquer novato pretendente ao cargo. Se a senadora e o ministro responderem que estão fora, o PT vai tentar viabilizar um novo nome já no próximo semestre.

Na relação do diretório, há três outros ministros de Dilma Rousseff, além de outros paulistanos que gostariam de se habilitar à disputa: Jose Eduardo Cardozo (Justiça), Alexandre Padilha (Saúde) e Fernando Haddad (Educação). Os três enfrentam o problema "ministro de quatro anos" desejado por Dilma. O ministro da Saúde desconfia dos que o apontam como eventual candidato, por entender que o objetivo oculto da proposta e tirá-lo do ministério. Padilha, recentemente, rechaçou uma abordagem sobre a transferência de seu domicílio eleitoral, que é o município de Santarém, no Pará. Padilha é paulista, mas morou por alguns anos nesta bucólica cidade localizada às margens do encontro das águas barrentas do rio Amazonas com as águas esverdeadas do rio Tapajós.