Título: Distrações tiraram o foco da reunião
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2011, Internacional, p. A13

Financial Times

A maior parte do comunicado final do G-20 foi água com açúcar. A cada duas frases, uma fazia referência a "levando em contas as circunstâncias nacionais". Muitos estão decepcionados com o fracasso em definir os desequilíbrios na economia mundial. Eles (e o G-20) deveriam parar de perder tempo. Ainda que esses parâmetros pudessem ser definidos, ninguém saberia direito o que fazer com eles. Essas distrações são uma pena, pois o G-20 levantou outras questões igualmente importantes para a economia global e nas quais haveria mais chance de consenso.

Uma dessas áreas é o temor com os preços das commodities. O G-20 pede que organizações internacionais avaliem o que está puxando os preços para cima e considerem a possibilidade de ação. Na verdade o FMI já começou a fazer isso. Em seu World Economic Outlook, o Fundo conclui que a alta no preço dos metais se deve à escassez (e não à especulação) e que os preços estão só na metade, longe do pico, da oscilação média que ocorre em períodos de 20 anos desde 1850. Estudos similares precisam ser feitos para todas as commodities antes que alguma ação seja tomada, se é que algo precisa ser feito.

A segunda área na qual o G-20 poderia ter encorajado mais cooperação é a reforma financeira, insistindo em padrões internacionais de contabilidade e na implementação o quanto antes do acordo de Basileia 3. Nada tornará o sistema financeiro mais seguro que elevar a exigência de capital para as grandes instituições financeiras. Os bancos vão resistir, já que o retorno sobre o capital cairá.

O G-20 precisa focar em batalhas duras porém vencíveis. E desistir de tentar forçar chineses e alemães a consumirem mais.