Título: De olho em medidas, aposta ainda é de alta de 0,5 ponto
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2011, Finanças, p. C3

Entre economistas do mercado financeiro, a aposta consensual para a reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária é de que haverá mais uma alta de 0,5 ponto percentual do juro básico da economia brasileira, a taxa Selic. O que o mercado discute é quanto mais juro será necessário para a convergência da inflação à meta em 2012 e, especialmente, qual será a contribuição das medidas macroprudenciais já tomadas pelo Banco Central em seu esforço para controlar a inflação. De 30 analistas consultados pelo Valor, a maioria trabalha com um ciclo total de aumento de juro - incluindo a elevação de janeiro - de 1,50 ponto percentual, o que levaria a Selic a 12,25% em dezembro. As projeções estão distribuídas entre o intervalo de 12% e 13,50%. Esses profissionais acreditam, entretanto, que, não fossem as medidas macroprudenciais, o juro poderia esticar ainda mais e superar a casa de 13,75%. Isso porque o impacto do aumento do compulsório bancário e do requerimento de capital para os financiamentos às pessoas físicas com prazos mais longos equivaleria à elevação de juro entre 0,50 e 1,50 ponto percentual.

A LCA Consultores avalia em 1,50 ponto percentual de Selic o impacto das medidas do BC. Ou seja, não fossem as medidas, o grau de aperto monetário no ano seria, no total, de três pontos percentuais. Segundo Bráulio Borges, economista-chefe, essa avaliação levou à redução da projeção de aumento do PIB para 2011, de 4,3% para 3,6%, já que, além desse choque monetário, a política fiscal também deverá ser anticíclica, com os gastos reais crescendo cerca de 3% neste ano.

Roberto Padovani, estrategista-chefe do WestLB Brasil, calcula que o ajuste fiscal sinalizado pelo governo equivale a alta da Selic de 0,75 ponto e as medidas do BC, incluindo alta do compulsório, a 1,25 ponto. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, vê aumento de 0,50 ponto em março e 0,25 ponto em abril. Considera que a atividade começará a desacelerar e os dados de crédito mostrarão contração. Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, não vê neste ano aperto monetário superior ao de 2010, de 2 pontos percentuais. Isso porque "os membros do Copom têm ressaltado de forma consistente em seus documentos e também discursos que estão considerando o impacto das medidas macroprudenciais na convergência inflacionária".

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, pondera que, de 0,50 em 0,50 ponto, a Selic fechará o ano em 12,75%, se muito. Ele contabiliza os efeitos das medidas macroprudenciais, o que justifica a expectativa da MB de que o Copom não subirá a Selic como o esperado. Vale considera que ainda há muita incerteza sobre a efetividade dessas políticas.

Outros economistas também veem com reservas a estratégia do BC de contar com medidas macroprudenciais no esforço de combate à inflação. Luis Otávio Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, considera que essa seria uma atitude mais segura se o quadro inflacionário fosse menos "urgente", ou seja, se as expectativas para o rumo dos índices de preço não estivessem tão deterioradas. "Agora, o BC está trabalhando em gelo fino, não tem muito espaço para errar, sob o risco de ver a inflação superar o teto da meta", afirma, lembrando que o IPCA em 12 meses já esbarra na casa dos 6% ao ano e, em breve, estará perto de 6,5%. "Se o BC errar agora, terá tempo para trazer a inflação de volta até o final do ano?", observa o economista, que espera que a Selic atinja 12,5% em dezembro.

A visão é compartilhada pelo economista do J.P. Morgan Julio Callegari, para quem deixar parte do trabalho de combate à inflação nas mãos dessas medidas de crédito "gera muita incerteza". "Ninguém sabe medir bem, nem o BC, se as medidas vão surtir efeito significativo", afirma. Por isso, o economista acredita que o mercado manterá ainda uma boa dose de prêmio, como reflexo da cautela, na curva de juros de longo prazo, até que fique mais claro o efeito da ação do BC sobre a atividade. "O núcleo do IPCA mostra uma inflação alta, espalhada, e atingindo segmentos difíceis de serem domados, como o de serviços", diz.

Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, projeta ciclo de alta da Selic de 1,75 ponto e também leva em conta os efeitos das medidas macroprudenciais. Ele lembra, porém, que outros canais de transmissão de política monetária, como impacto em expectativas, no câmbio e em preços de ativos, não são afetados ou são afetados em menor escala pelas medidas. E retomada do ciclo de baixa, estima Goldfajn, deve ocorrer apenas no segundo semestre de 2012.

O ambiente de inflação elevada deve justificar a estabilidade da taxa Selic em níveis elevados por vários meses, após o ciclo de aperto, na opinião de boa parte dos especialistas. José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, que trabalha com ciclo de 1,50 ponto de alta da Selic desde que o governo faça efetivamente o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, considera que o comportamento das commodities deve impedir o processo de queda da Selic ainda neste ano.

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados, não vê corte de juro pela frente porque a inflação só deve apontar para o centro da meta em 2012. Ela trabalha, ainda assim, com inflação superior a 5% para o ano que vem. Vale, da MB, não vê juro menor adiante e considera que o BC não tem condição de pensar em queda na Selic este ano, "por mais que a Fazenda insista".

Já o diretor do Departamento Econômico do Bradesco, Octávio de Barros, que também vê ciclo de aumento da Selic de 1,50 ponto, e efeito das medidas macroprudenciais de um ponto no total, não se descarta totalmente a possibilidade de o Copom cortar o juro ainda neste ano. "Mas no momento, não contamos com isso", afirma.