Título: Filiais de múltis brasileiras trazem US$ 7 bi ao Brasil
Autor: Travaglini, Fernando; Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2011, Finanças, p. C14

As empresas brasileiras que possuem investimentos no exterior trouxeram ao país US$ 7,322 bilhões no mês de janeiro, quase metade de toda a movimentação feita ao longo do ano passado. O forte fluxo de divisas foi considerado "atípico" pelo Banco Central, que não deu detalhes sobre o motivo, mas alegou que ele decorre do pagamento de dívidas (amortizações) feitas entre as matrizes e suas filias internacionais.

Segundo o Valor apurou, no entanto, o mercado desconfia que a maior parte do ingresso de recursos se deve à captação externa de US$ 6 bilhões feita pela Petrobras em janeiro, por meio da emissão de eurobônus da subsidiária no exterior Petrobras Internacional Finance Company. Os bancos viram a Petrobras atuando com força no câmbio financeiro e apostam que a empresa ingressou com grande parte dos recursos.

Quando uma empresa capta no exterior por meio de uma subsidiária e não traz esse dinheiro ao país, não há registro da captação no balanço de pagamentos, pois a transação é feita por uma não-residente. Quando o dinheiro captado pela filial entra no país, no entanto, ele é registrado no balanço de pagamentos no item empréstimos intercompanhias. Foi o que aconteceu no caso da Petrobras, no entender do mercado financeiro.

A exceção fica para os bancos: quando uma filial de uma instituição financeira capta no exterior e ingressa com os recursos no país, o ingresso acontece no item empréstimos do balanço de pagamentos.

A Petrobras Internacional Finance Company emitiu os bônus de US$ 6 bilhões no dia 20 de janeiro e a liquidação financeira estava prevista para alguns dias depois. O mercado calcula que parte das atuações do Banco Central no mercado de câmbio, que totalizaram compras de US$ 14,6 bilhões no mercado à vista, futuro e a termo em janeiro, foi também para reduzir os impactos dos ingressos financeiros feitos pela Petrobras.

Os ingressos de empréstimos intercompanhias feitos pelas filiais para a matrizes no Brasil somaram US$ 7,52 bilhões em janeiro, em relação a saídas de US$ 198 milhões. No ano passado todo, o volume líquido de ingressos de empréstimos intercompanhias brasileiras foi de US$ 15,263 bilhões.

Para Túlio Maciel, chefe-adjunto do departamento econômico do BC, o que aconteceu foi "atípico". "Os fluxos correspondem a ações de estratégia das empresas, às quais não temos conhecimento, e não guardam regularidade", diz.

Segundo ele, considerando-se os fluxos de participação no capital, o processo de internacionalização de empresas brasileiras continua "vigoroso", com US$ 78,7 bilhões enviados desde 2006. Em janeiro, foram aplicados US$ 1,03 bilhão nas empresas brasileiras no exterior em participação de capital, valor semelhante ao mesmo mês de 2010 (US$ 1,284 bilhão).

O saldo total líquido da movimentação em janeiro do investimento brasileiro direto no exterior -os empréstimos e os investimentos em participação- é de um retorno de US$ 6,3 bilhões.

Já os estrangeiros continuam trazendo capital para o país. Os ingressos de investimentos externos diretos líquidos no país somaram US$ 2,956 bilhões em janeiro de 2011, superando a expectativa do próprio BC, de US$ 2 bilhões. Em fevereiro até o dia de ontem, esses ingressos totalizam US$ 6,7 bilhões, com previsão de atingir US$ 7 bilhões no mês.

O investimento externo direto no Brasil e o investimento brasileiro no exterior somam US$ 16 bilhões e explicam parte do enorme fluxo de divisas para o país nos dois primeiros meses do ano, que já supera os US$ 19,1 bilhões, próximo dos US$ 26 bilhões de todo o ano passado.

Explicam em parte, também, o resultado deficitário da conta corrente externa de US$ 5,4 bilhões em janeiro de 2011, a pior para meses de janeiro na série apurada pelo BC desde 1947. Para fevereiro, há a expectativa de redução no déficit para US$ 3 bilhões, segundo Túlio Maciel. Ele ponderou que, mesmo com o déficit recorde para janeiro, "há condições favoráveis de financiamento" para o país. "Para o bimestre, já estamos cobertos", diz. (Colaborou Azelma Rodrigues)