Título: Cortes atingem menos os ministérios do PT
Autor: Romero, Cristiano; Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2011, Brasil, p. A4

PMDB, PP e PCdoB foram os partidos cujos ministérios mais sofreram com o corte no Orçamento Geral da União (OGU), anunciado ontem pelo governo. A maioria das pastas controladas pelo PT foi preservada. Áreas controladas por aliados tradicionais do governo, como o PSB e o PDT, também sofreram cortes significativos. Os cortes confirmam o enfraquecimento de ministros que, em apenas dois meses de gestão Dilma, perderam prestígio. Um deles é o ministro do Esporte, Orlando Silva, filiado ao PCdoB. Seu ministério sofrerá corte de 64,1%. Dos R$ 2,374 bilhões autorizados originalmente, o ministério poderá executar apenas R$ 853,2 milhões.

Essa foi a segunda derrota de Orlando Silva em menos de uma semana. Na quinta-feira, por iniciativa do Palácio do Planalto, a Câmara dos Deputados aprovou a medida provisória que institui a Autoridade Pública Olímpica (APO), com mudanças que esvaziam os poderes do Ministério do Esporte. O projeto original da APO foi feito por Silva, que acalentava o interesse, durante o período de transição de governo, de ser nomeado presidente da APO.

O ministério que mais perdeu verbas, de acordo com o corte anunciado ontem, foi o do Turismo, comandado por Pedro Novais. Em relação à proposta orçamentária, perdeu 30%, menos que outros, mas com relação às emendas introduzidas no Orçamento pelo Congresso, perdeu tudo - o corte em relação à proposta aprovada pelo Legislativo foi de 84,3%. Ligado ao presidente do Senado, José Sarney, Novais foi indicado para o cargo pela bancada do PMDB na Câmara dos Deputados. Agora, o ministério terá apenas R$ 573,4 milhões para gastar em 2011.

Leonardo Rodrigues/Valor Carlos Lupi, do Trabalho: agora, sem o tratamento vip dos aliados fiéis

O Ministério da Agricultura, outra pasta do PMDB, sofrerá corte de 51,2%. Comandada por Wagner Rossi, indicado para o cargo pelo vice-presidente Michel Temer, a Agricultura perderá R$ 1,468 bilhão da sua dotação inicial. Rossi é o principal interlocutor, no governo, dos ruralistas e empresários do agronegócio.

A tesoura também foi impiedosa em relação ao ministro Carlos Lupi (PDT), do Trabalho, que tinha R$ 1,4 bilhão para gastar em 2011 e ficou com R$ 960 milhões (corte de 34%). Lupi perdeu condições de fazer uma negociação melhor sobre os cortes em sua pasta ao criar dificuldades para o governo na tramitação e votação do salário mínimo. O ministro não conseguiu fazer com que a bancada do PDT votasse unida. Dos 11 partidos que integram a coalizão governista, o PDT foi o que apresentou o maior número de defecções. Desde então se afirma, no Palácio do Planalto, que Lupi não perderia o emprego, mas deixaria de receber o tratamento vip destinado aos aliados fiéis.

A preservação da área social é a justificativa do governo para manter boa parte dos ministérios do PT a salvo dos cortes. Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ministério que abriga o Bolsa Família, teve um corte de apenas 0,1%, enquanto na Saúde o corte foi de 0,9%. Outros ministérios do PT tiveram cortes acentuados, como o de Comunicações (57,2%) e o de Desenvolvimento Agrário (28,4%).

Difícil, para o governo, será convencer partidos aliados como o PMDB e o PSB, que já demonstravam incômodo com a formação do governo, de que não há favorecimento à principal sigla de sustentação do governo, o PT. O discurso público do PMDB é de compreensão, mas há inquietação nos bastidores. Entre os partidos aliados é consensual que Dilma, passado o período de lua de mel com o Congresso, terá dificuldades em uma ou outra votação de interesse do governo. No momento, o principal desafio da presidente no Congresso não é a oposição, mas sua base de apoio.