Título: Estudioso defende loteria e ideia de um bebê, um voto
Autor: Schmitter, Philippe
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2011, Política, p. A10

Qual deve ser o futuro da democracia? Para Philippe Schmitter, os regimes democráticos consolidados, especialmente Europa e Estados Unidos, estão numa fase na qual enfrentam desafios que merecem uma reformulação inovadora de métodos. "O que é necessário não é mais da mesma democracia, mas um tipo diferente de democracia", defende.

Em sua opinião, para que as democracias atuais superem alguns de seus dilemas, a solução passa menos por aperfeiçoar suas instituições formais e informais - por exemplo, ao estimular a maior participação dos cidadãos em eleições ou na vida interna dos partidos - e mais na tentativa de mudá-las.

Foi assim que Schmitter chegou a uma relação de 28 propostas lançadas em seu último livro "The Future of Democracy: Trends, Analyses and Reforms", que escreveu para o Council of Europe.

Algumas são inusitadas, como a ideia batizada de "um bebê, um voto". A proposta é uma radicalização do sufrágio universal, que atingiria qualquer cidadão, independentemente de idade. O direito ao voto das crianças seria exercido pelos pais. Schmitter afirma que esta seria uma boa saída para atrair os jovens e tornar as políticas públicas menos enviesadas em países de população envelhecida.

"Na Europa, os governos estão concentrando muito mais atenção em projetos voltados para os mais velhos, como questões relacionadas a aposentadoria, do que para temas como a geração de emprego, que interessam aos jovens", diz Schmitter.

Outra sugestão para despertar os cidadãos para a vida pública é a realização de uma espécie de loteria nas eleições. Depois de votar, o eleitor receberia um tíquete e, caso seu nome preferido na disputa vencesse, ele participaria de um sorteio com os demais que votaram no mesmo candidato. Se o tíquete fosse sorteado, o cidadão ganharia não um prêmio privado, mas um montante de recursos públicos, por exemplo R$ 2 milhões, para investir em alguma área ou instituição. O eleitor teria um mês para pensar, período durante o qual receberia propostas de vários interessados nas verbas, tal como se fosse um deputado.

Schmitter minimiza a possibilidade de haver corrupção, mas admite que nem todas as 28 propostas são praticáveis.

"Algumas já foram introduzidas em certos países; e a maioria nunca foi tentada. Mas concordo que algumas sugestões não são urgentes ou viáveis e algumas nem desejáveis", diz o cientista político. (CK)