Título: PMDB pretende usar sigla a ser criada por Kassab para driblar legislação
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2011, Política, p. A12

O PMDB aproveita a possibilidade de criação de uma legenda - o PDB - para abrigar o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e usá-la como janela de mudança de partido para pelos menos seis deputados estaduais e quase 20 federais. Será uma forma de driblar a legislação eleitoral e permitir que outros parlamentares insatisfeitos deixem seus partidos e migrem para o PMDB, aumentando sua bancada na Câmara, sem risco de perderem o mandato. Mesmo que Kassab, o líder do novo partido, não vá depois para o PMDB.

Se ultrapassar o número de deputados do PT, o PMDB teria mais força no plano nacional e melhor condição para negociar cargos no governo federal e influenciar na gestão de Dilma Rousseff.

Nos últimos dias, aumentaram as especulações em torno do novo partido e sua meta, de ter vida curta, fundindo-se posteriormente com o PSB. O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, comanda diretamente essa negociação, já que seu partido também está interessado em evitar que o PMDB cresça ainda mais seu poder de influência no governo federal. Campos quer que o PSB passe a ser este parceiro preferencial do PT para 2014.

Para articuladores pemedebistas, no entanto, esta fusão do ainda inexistente PDB com o PSB reforçaria a migração de parlamentares para o PMDB. Eles poderiam alegar que queriam criar um novo partido, não foram consultados sobre a aliança com o PSB e buscariam novos partidos sem o risco de perder os mandatos na Justiça. Tudo pode estar sendo feito, segundo avaliam políticos envolvidos nas negociações, com o conhecimento da cúpula do PMDB, inclusive do vice-presidente Michel Temer.

Estão indefinidas a decisão de Kassab e a possibilidade de ele não sair do DEM. Até a semana passada, quando lideranças do partido procuraram o prefeito, ele repetia que não havia decidido seu futuro. Ontem, Kassab encontrou-se com o senador José Agripino Maia (RN), que deve ser o futuro presidente do DEM. Maia tenta demovê-lo da mudança.

O prefeito paulistano integra uma das três forças políticas que dividem o espaço em São Paulo. Kassab controla a máquina municipal, o PSDB conta com o governador Geraldo Alckmin e o PT nacional apoia-se na gestão Dilma. Nenhum destes três vetores anunciou quem apoiará em 2012 para a prefeitura municipal, o que deixa o cenário ainda em aberto.

O PMDB está disposto a ter um nome forte local para as eleições municipais e estadual e só negociar uma aproximação com o PT em um eventual segundo turno, já que o adversário local é o PSDB. Mas alega que o tempo agora é de Kassab. Se ele não se movimentar rápido, a legenda tem outras opções. Uma delas seria atrair o deputado Gabriel Chalita, filiado ao PSB. Chalita avisou que deixa o PSB se Kassab migrar para o partido.

Pemedebistas analisam que das três forças políticas paulistas, o atual prefeito é o que tem a situação mais frágil. Ele tem um peso político considerável, mas com tempo de validade curto. Daqui a pouco menos de dois anos, não estará mais na prefeitura e perderá a influência municipal, agravada pelo isolamento do DEM.

Se migrar de fato para o PDB e, posteriormente, para o PSB, como planeja Eduardo Campos, Kassab poderá estar ampliando seu isolamento político. No campo estadual, o PSB está muito próximo ao governador Geraldo Alckmin, com a indicação do deputado Márcio França para a Secretaria de Turismo. Além disso, o PSB filiou recentemente Gabriel Chalita. Com isso, Kassab teria pouca influência para escolher seu sucessor.

Por outro lado, o PSB também tem uma aliança forte com o PT nacional. E o eleitorado de Kassab ficaria, nas palavras de alguém que acompanha de perto as conversas, sem entender o movimento do prefeito paulistano. "O eleitorado do Kassab é malufista [eleitor de Paulo Maluf], ademarista [seguidores de Adhemar de Barros, ex-governador de Estado], ligado à direita. Não entenderia porque ele virou PSB, aliado de Dilma e do PT", disse um interlocutor pemedebista. Um cenário que, evidentemente, é o que agrada ao PMDB e favorece os planos do partido de Temer.