Título: EUA já avaliam intervenção militar na Líbia
Autor: Chazan, Guy
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2011, Internacional, p. A15

Agências internacionais

Os Estados Unidos começaram a discutir com países aliados uma possível intervenção militar na Líbia, que poderia contribuir para a queda do ditador Muamar Gadafi. Washington reposicionou ontem navios e aviões de guerra, colocando-os mais próximos da Líbia. O governo americano bloqueou ainda cerca de US$ 30 bilhões em ativos da Líbia.

Os governos americano e britânico falaram ontem em impor uma zona de exclusão aérea na Líbia para proteger civis dos ataques de Gadafi. Ontem houve relatos de ataques de aviões e helicópteros líbios a alvos civis. Não há confirmação independente.

Essa é a reação mais contundente do Ocidente desde o dia 15, quando começaram os protestos contra Gadafi e os confrontos na Líbia, que já teriam deixado mais de 2 mil mortos.

A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Susan Rice, disse que o país ainda espera para saber se a oposição a Gadafi aceitaria uma intervenção estrangeira.

Rice disse também que é prematuro discutir apoio militar a esses grupos, mas que Washington está tratando com países da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) uma operação militar na Líbia.

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse em Genebra que o reposicionamento dos navios da Sexta Frota americana (baseada na Itália) visa ajudar operações humanitários e de resgate na Líbia. Ela, porém, mandou um recado dúbio: que a operação naval não é um prenúncio de ação militar na Líbia, mas ao mesmo tempo que todas as opções estão sobre a mesa no que diz respeito à forma como Washington pretende lidar com a crise no país. Ela afirmou que "é hora de Gadafi" deixar o governo. "Agora", enfatizou.

O premiê britânico, David Cameron, foi mais direto: "Não descartamos o uso de forças militares", disse. E afirmou que está negociando com países aliados a imposição de uma zona de exclusão área em território líbio.

O primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, disse que seu governo solicitará à ONU a aprovação de uma área de exclusão.

O governo da Itália, que era um dos principais aliados de Gadafi no Ocidente, está avaliando ceder suas bases para que caças façam o controle aéreo de partes do território líbio, no caso de a ONU aprovar a medida, disse o ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini.

Ontem, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, procurou demonstrar que não há ainda nada definido sobre uma ação militar e que uma resolução do Conselho de Segurança da ONU exclui intervenção militar no país.

O Departamento do Tesouro americano anunciou ontem que bloqueou cerca de US$ 30 bilhões em ativos líbios nos EUA, aos quais Gadafi e família tinham acesso. Esse é o maior bloqueio de ativos estrangeiros já feito no país. Governos europeus estão adotando medida semelhante, num cerco econômico ao regime de Gadafi.

A disposição do governo americano de avaliar uma ação militar contra o líder líbio - há 41 anos no poder - ocorre após uma sucessão de críticas do Partido Republicano e de analistas conservadores, que atacaram Obama pela reação branda aos distúrbios na Líbia.

Na sexta-feira, porém, poucas horas depois de um avião ter retirado alguns dos últimos americanos da Líbia, Washington anunciou as primeiras sanções.