Título: O salto do passado para o presente
Autor: Squarisi, Dad
Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2010, Brasil, p. 12

O Brasil tem de responder ao desafio de combinar o acesso à escola com a qualidade e a inovação

São Paulo As projeções do FMI mostram a pujança da economia nacional. Até 2015, o PIB brasileiro ultrapassará o italiano. Uma década depois, deixará pra trás o inglês e o francês. O país dispõe de matéria-prima abundante e tecnologias aptas a explorá-la. Faltam-lhe, porém, recursos humanos qualificados para dinamizar o potencial de riqueza. Como suprir a carência? O Forum Microsoft de Educação Inovadora deu respostas à questão.

Realizado em São Paulo na quarta-feira, o encontro reuniu especialistas para discutir as boas práticas de ensino nas diferentes unidades da Federação. O desafio: transitar da educação do passado para a educação do presente. Desde a Revolução Industrial, a escola prepara profissionais para uma sociedade de massa. Agora tem de se adaptar à nova realidade. O país precisa de cidadãos capazes de fazer frente às urgências do mundo globalizado. O caminho passa necessariamente pelo uso da tecnologia. Como chegar lá?

Mozar Ramos, professor da Universidade Federal de Pernambuco e membro do Conselho Nacional de Educação, frisou que a mudança depende do professor, mas não se origina nele. A universidade não sabe como preparar docentes para a escola pública. Além de formação inicial sólida, o professor necessita de plano de carreira, educação continuada e condições de trabalho. Cláudio Duarte, secretário de Educação de Recife, vai na mesma direção. Defende a inclusão do magistério nas carreiras de Estado, a exemplo da diplomacia, magistratura e ministério público. Só assim a educação atrairá talentos em vez de expulsá-los.

A tarefa é hercúlea. Além de atualizar os profissionais em exercício, há de preparar os que entrarão no sistema. A quantidade inviabiliza soluções presenciais. A saída são as TICs tecnologias da informação. Os recursos da multimídia, hipermídia e redes tornam o ensino a distância eficaz e prazeroso. Impõe-se, porém, preparar conteúdos que não sejam mera transposição do material impresso para o midiático. Nem tradução do que deu certo em outras culturas para a cultura brasileira.

Há trilhas abertas. As secretarias de Educação dos municípios do Rio, de Recife e de São Paulo aplicam as TICs para qualificar o corpo docente, formar gestores e preparar alunos com as competências exigidas pelo século 21. Entre elas, comunicar-se na língua pátria e em pelo menos uma língua estrangeira, resolver problemas, trabalhar em equipe, ser proativo, dominar a tecnologia, mobilizar conhecimentos em prol de mudanças.

Escolas de norte a sul do Brasil se mobilizam em busca de transformações. O Prêmio Microsoft Educadores Inovadores Brasil 2010 recebeu 1.056 inscrições. Selecionou 12 finalistas em quatro modalidades: Inovação em Conteúdo, Inovação em Comunidade, Inovação em Colaboração e Escolas Técnicas. Os vencedores ensinaram três lições. Uma: é possível mudar. Duas: ninguém consegue inovar sozinho. A última: o aluno é o melhor parceiro.

O número DISPUTA 1.056 Do total de inscritos, foram selecionados 12 finalistas

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Análise da notícia Paredes físicas e mentais

Os tempos mudaram. Com eles, paradigmas. A escola centrada no professor é resquício do passado. Gastar horas com conteúdos disponíveis na internet é desperdício. Tratar crianças e jovens como componentes de linha de montagem não responde às expectativas do século 21. O aluno hoje é protagonista.

Cabe à escola desenvolver-lhe as competências que o habilitarão a responder aos desafios que ele como indivíduo que faz parte de uma coletividade terá de enfrentar numa sociedade em mutação veloz. Entre elas, conviver, comunicar-se na língua nativa e em línguas estrangeiras, resolver problemas, trabalhar em equipe, dominar as tecnologias da informação.

Convenhamos. Pra chegar lá, a escola tem de se reinventar. Precisa derrubar paredes físicas e mentais. A revolução exige mudanças. A mais importante: a do professor. Ele deve, em primeiro lugar, aceitar as transformações. Em segundo, dominá-las. Em terceiro, aliar-se aos alunos para promover trocas. Sem a adesão dos mestres, tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes. (DS)