Título: Dilma diz a líderes que cortes foram necessários para evitar volta da inflação
Autor: Agostine, Cristiane; Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2011, Política, p. A5

A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem, durante a primeira reunião com os líderes aliados na Câmara, que os cortes anunciados no Orçamento foram necessários para impedir o aumento da inflação. Dilma não tocou na questão das emendas parlamentares - do total de R$ 21 bilhões previstos no Orçamento, foram cortados R$ 18,5 bilhões. Mas também não foi cobrada pelos deputados. A presidente disse que o momento é de colocar as contas públicas em ordem. "Eu posso garantir a vocês que o governo vai fazer de tudo para impedir a volta da inflação", prometeu ela, segundo relato de diversos líderes presentes ao encontro. O PDT foi o único partido aliado não convidado para a reunião a que compareceram os líderes do PT, PMDB, PCdoB, PSB, PP, PR, PTB, PSC, PRB, PMN, PTdoB, PRTB, PRP, PTC e PSL. Dilma lembrou que em 2009 e 2010 o governo foi obrigado a ser menos rígido com as contas para fazer com o que o país saísse da crise financeira internacional. Segundo ela, esta postura foi fundamental para garantir os empregos dos trabalhadores e manter o país em um ritmo de crescimento sustentável - embora em 2009 o PIB brasileiro tenha sido próximo de zero. Passado este momento, chegou a hora de diminuir o ritmo e reajustar as finanças públicas.

A presidente afirmou, contudo, que a postura mais comedida não significa abrir mão de preocupações sociais. Por isto, decidiu reajustar os benefícios do Bolsa Família, em média, em 19,3% podendo chegar a 45,5% em alguns casos: "Tomei estas medidas para ajudar, especialmente, as famílias mais carentes que ainda têm filhos para sustentar."

Alvo das críticas de aliados e adversários, o corte de R$ 5,1 bilhões nos recursos destinados ao Programa Minha Casa Minha Vida não são suficientes para inviabilizar o projeto, na opinião da presidente. Segundo ela, o governo está construindo aproximadamente 250 mil casas populares e outras 750 mil já estão contratadas na Caixa Econômica Federal. "As construtoras não estão conseguindo construir as casas na velocidade que o país precisa. Agimos assim para evitar que as empresas fiquem com recursos parados em caixa", declarou a presidente, assegurando a entrega de 1 milhão de casas até o fim do ano.

Os líderes da base aliada afirmaram que a presidente estava bem à vontade em seu primeiro encontro político no Palácio do Planalto. "Tanto que, ao nos receber, ela já deixou marcada a primeira reunião do Conselho Político para o dia 23 de março", disse o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). Composto por presidentes dos diversos partidos da base e os líderes nas duas Casas, o Conselho Político foi instituído pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um fórum para o debate com os aliados. "Um dos temas que serão debatidos no conselho é a reforma política, matéria que a presidente pediu empenho na aprovação", disse o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG).

Dilma prometeu reuniões periódicas para discutir com a base quais projetos serão encaminhados ao Congresso. "A presidente tem demonstrado a disposição de manter um bom relacionamento com o Congresso. Tanto que, de maneira pouco usual, foi pessoalmente ao Parlamento ler a mensagem presidencial na abertura do ano legislativo", lembrou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).