Título: BC mostra confiança no seu plano de voo
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2011, Finanças, p. C2

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve o plano de voo transmitido ao mercado e subiu a Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,75%.

O resultado foi unânime e o breve comunicado apresentado junto com a decisão não deu pista alguma.

"Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,75% a.a., sem viés" - essa é a redação integral do comunicado apresentado após quase quatro horas de reunião.

Índice de condição financeira subiu durante fevereiro

Com isso, toda e qualquer consideração fica para a ata da reunião, a ser conhecida na quinta-feira da próxima semana.

Segundo o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, só a ata permitirá tirar alguma conclusão com relação à percepção do Banco Central (BC) sobre atividade, inflação e cena externa.

Avaliando a possível reação do mercado de Depósitos Interfinanceiros (DI) nesta quinta-feira, Serrano acredita que os vencimentos curtos não devem ter grande alteração, pois estavam bem precificados.

Já os contratos longos podem ter algum movimento de alta, pois parte do mercado previa o meio ponto, mas com alguma sinalização de maior atenção/preocupação por parte da autoridade monetária.

Como isso não aconteceu, esse parcela do mercado pode passar a pedir mais prêmio para ficar aplicado.

Na visão do economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, o comunicado diminuto do Copom pode ser encarado como um sinal de tranquilidade da autoridade monetária com seu plano de ação.

Com isso, ao menos por ora, fica ratificada a ideia de gradualismo no ajuste da taxa básica de juros, ou seja, os apertos serão de meio em meio ponto.

Ainda de acordo com Velho, tal decisão também ajuda o BC a recuperar a credibilidade de seus canais oficiais de comunicação, algo fundamental no regime de metas para inflação.

Uma mudança de passo iria contra a ata da reunião de janeiro e outras indicações dadas por membros do próprio comitê em eventos públicos.

Passando para o câmbio, o Banco Central fez duas compras a termo e uma à vista, mas as ordens de venda ainda falaram mais alto. O dólar fechou a R$ 1,660, queda de 0,24% e segunda menor cotação do ano. Tal cotação só não é menor que o R$ 1,651 do dia 3 de janeiro, primeiro pregão do ano.

Mudando de assunto, o Bank of America Merrill Lynch captou uma melhora nas condições financeiras da economia brasileira durante o mês de fevereiro, ou seja, tais condições deram maior apoio ao crescimento da economia.

O banco chegou a essa conclusão ao observar seu Indicador de Condições Financeiras para o Brasil (BFCI, na sigla em inglês), índice criado pela instituição e que passou a ser divulgado mês passado.

Tal índice leva em consideração juro básico, agregados monetários, taxas de juros de mercado, índices de ações e commodities. Além de dar uma ideia sobre as condições financeiras, o indicador também ajuda a avaliar as implicações dessas condições sobre a atividade futura.

O BFCI marcou leitura de 0,37 em fevereiro, depois de leitura negativa de 0,15 na abertura de 2010. Tal variação foi a maior já registrada desse novembro do ano passado (0,43). Pela composição do indicador, condições financeiras neutras estão associadas a um hiato de produto zero, ou seja, a economia não cresce acima do seu potencial (máxima expansão do PIB sem inflação). Assim sendo, condições financeiras positivas estimulam o crescimento, enquanto condições negativas seguram o crescimento.

A melhora nas condições financeiras, segundo a instituição, resulta da valorização no preço das commodities e de uma aceleração do M1 - moeda em circulação mais depósitos à vista. Cabe lembrar que o efeito na variação de cada uma das variáveis consideradas tem um efeito defasado.

Ainda de acordo com o BAML, os ajustes de Selic feitos no ano passado impediram uma expansão maior das condições financeiras. Vale lembrar aqui, que cada ajuste da Selic leva oito meses para atingir o modelo. Portanto, o aperto monetário encerrado em julho de 2010 deve ajudar a conter as condições monetárias até abril.

Já a alta de Selic promovida em janeiro de 2011, começa a ter efeito nas condições monetárias em agosto. E o aperto anunciado hoje entraria em ação só em setembro.

A melhora das condições agora em fevereiro estava prevista pelo modelo, que sugere que o BFCI voltará à neutralidade em maio, quando a influência das medidas adotadas em dezembro (como alta dos compulsórios) deve ser ficar mais pronunciada.