Título: Pesquisa do BC sobre pacote fiscal deu base a alta de 0,5 ponto da Selic
Autor: Safatle, Claudia; Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2011, Finanças, p. C2

O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano. A decisão foi tomada por unanimidade, ontem, mantendo, assim, o mesmo ritmo de aumento dos juros da reunião anterior, em janeiro. Considerando que as medidas macroprudenciais representam o equivalente a um aumento de 0,75 pontos percentuais na taxa básica, o aperto monetário desde o final de 2010 já soma o correspondente a um acréscimo de 1,75 ponto na Selic.

Pesquisa feita pelo Banco Central junto ao mercado indica que há confiança de que o pacote fiscal, com os cortes de gastos públicos anunciados pelo governo, pode garantir um superávit primário este ano de 2,7% do Produto Interno Bruto. Não é o que o governo se compromete a fazer, um superávit de 2,9% do PIB, mas é uma expectativa muito melhor do que a que os agentes do mercado estavam apontando anteriormente.

Com base nesse somatório de medidas, o governo entende que está sendo agressivo na política de controle da inflação, numa postura mais dura que os demais países emergentes que estão padecendo do mesmo mal.

Embora os sinais de desaquecimento do nível de atividade sejam ainda incertos, a percepção da autoridade monetária é de que a economia já está em processo de desaceleração, encurtando a defasagem entre a demanda e a oferta de bens de serviços.

Identifica-se, também, nos títulos do Tesouro Nacional, uma redução da pressão inflacionária. Entre a reunião do Copom de janeiro e a de ontem, a taxa de inflação implícita nas NTN-B caiu 0,7 ponto percentual.

O governo sabe, entretanto, que entre julho e setembro próximos a inflação medida pelo IPCA poderá furar o teto da meta, que é de 6,5%. Mas esse é um efeito base, pois nesses mesmos meses do ano passado a inflação foi praticamente zero. Nesse momento do ano, na expectativa do governo é de que "o passado será ruim, mas o futuro da inflação será bem melhor", conforme disse uma alta fonte oficial.

No Relatório Trimestral de Inflação, que será divulgado pelo Banco Central no fim deste mês, o Copom deverá deixar mais claro como está prevendo o prazo de convergência da taxa de inflação, hoje na casa dos 6% acumulada em doze meses, para a meta de 4,5%. Muito provavelmente anunciará que essa convergência só deverá ocorrer em 2012.

De acordo com o comunicado, divulgado após a reunião do comitê, ontem, o aumento dos juros ainda vai prosseguir nos próximos meses. O comunicado, conciso, diz o seguinte: "Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,75% ao ano, sem viés".

O aumento de 0,5 ponto percentual não surpreendeu economistas e investidores do mercado financeiro. O consenso de que essa seria a opção do Banco Central foi formado nos últimos dias.

A discussão nos mercados, agora, diz respeito ao tamanho do aperto que será feito pelo comitê nas próximas reuniões. O Boletim Focus, alimentado por analistas privados semanalmente, prevê mais uma elevação de 0,5 ponto na reunião de abril e outra de 0,25 ponto percentual em junho, encerrando o primeiro semestre com a taxa Selic em 12,5% ao ano.

Dados preliminares corroboram com a análise do BC, de que a economia está em processo de desaceleração. É o que indica a expansão de apenas 0,2% da produção industrial registrada em janeiro, conforme divulgou ontem o IBGE.

Novos indicadores serão conhecidos antes do carnaval. Hoje o IBGE anuncia o PIB do quarto trimestre de 2010 e na sexta publica o IPCA de fevereiro.

A reunião de ontem teve uma peculiaridade com relação à composição da diretoria colegiada. No primeiro dia do encontro, na terça-feira, participaram os diretores Alvir Hoffmann e Gustavo do Vale. Os dois, no entanto, não votaram ontem, já que suas exonerações saíram no diário oficial de quarta-feira. Foram substituídos pelos novos titulares das diretorias de Administração, Altamir Lopes, e de Liquidações, Sidnei Marques, que tomaram posse ainda ontem.