Título: UFMG faz parcerias e acelera pesquisas
Autor: Felício, Cesar
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2011, Empresas/ Tecnologia e Comunicações, p. B3

De Belo Horizonte

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) começa a acelerar a orientação da sua pesquisa tecnológica para o mercado. Dados preliminares mostram que a instituição já se equipara à Unicamp, de Campinas, em São Paulo, em registro anual de patentes no Brasil. Recordista nacional em depósitos de patentes, com 653 registros já divulgados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a Unicamp fez 51 depósitos no ano passado, segundo a instituição divulgou recentemente, enquanto a UFMG solicitou 60 registros, de acordo com o coordenador de transferência de tecnologia e proteção intelectual da universidade, Pedro Pires.

Em 2009, a relação era inversa e a distância menor: a Unicamp fez 52 pedidos e a UFMG, 45, segundo dados das instituições. A universidade mineira conta com 327 depósitos públicos de patentes. Nos últimos anos, a Universidade de São Paulo (USP), com 551 depósitos de patentes, registrou o maior número anual de pedidos. As estatísticas de 2009 e 2010 são aproximadas, porque as patentes só são tornadas públicas pelo INPI, após um prazo de sigilo que pode durar até 18 meses.

O depósito de patentes da UFMG vêm em uma sequência de crescimento. Em 2006, foram solicitadas 32 patentes, número que saltou para o patamar entre 40 e 50 entre 2007 e 2009. "Já somos os maiores no âmbito das universidades federais e ficamos em 2009 com o maior número de patentes registradas por universidades brasileiras no exterior", afirmou o reitor da UFMG, Clélio Campolina. O reitor se referiu ao registro de 20 patentes via PCT - mecanismo que permite o patenteamento simultâneo em 142 países. Fora do âmbito universitário, quem mais patenteou em 2009 foi a Whirlpool, fabricante de eletrodomésticos, com 37 registros.

O caminho entre a universidade e o meio empresarial se tornará mais curto ainda este ano, quando a UFMG deve inaugurar seu parque tecnológico, uma locação de espaço para 15 empresas, para que possam desenvolver projetos de tecnologia, com possibilidade de interação com a universidade. Já está definida a instalação, entre outras, de um centro de tecnologia de pesquisa em minério da Usiminas e de um núcleo de desenvolvimento para aparelhos cardiovasculares, da subsidiária da canadense Saint Jude Medical Brasil.

A iniciativa é um indicativo da aplicação comercial da pesquisa da universidade mineira. Das 40 tecnologias licenciadas pela instituição, nove são de desenho industrial e quatro são licenciamento de conhecimento. A tecnologia de autoria da UFMG sobre amortecimento de calçado, aplicada a um modelo de tênis produzido pela Cromic, de Nova Serrana (MG), tornou-se um chamativo para as vendas da empresa de calçados. "Está se tornando o nosso principal produto", disse o dono da Cromic, Júnior César da Silva, que adotou para o produto, vendido em lojas da cidade por R$ 70 o par, o nome comercial "aerobase".

Segundo Campolina, a UFMG segue a mesma interação com o meio privado que marcou as universidades americanas da região do Vale do Silício e que também foi seguida pela Unicamp, nos anos 1980, e pela USP, mais recentemente. Mas a integração foi acelerada pela própria transformação da economia mineira, nos últimos anos, que começou a demandar os serviços da universidade com maior vigor.

"Em 1981, quando escrevi minha tese de doutorado - "Estado e Capital Estrangeiro na Industrialização Mineira-, Minas Gerais tinha um capitalismo sem empresários, em que as decisões econômicas eram, na maior parte das vezes, tomadas fora. Consequentemente, a inovação empresarial vinha de fora", disse o reitor. "Mas há, atualmente, uma nova geração de empresas que já nasce voltada para a alta tecnologia, de um modo que só é possível em cidades de médio porte. São Paulo é grande demais para esses experimentos."

Campolina cita como exemplo o resultado da incubadora criada na UFMG. Das 60 empresas incubadas pela universidade desde 1996, 93% delas ainda estão em atividade, índice de vitalidade muito acima do normal, segundo ele.

A vocação da universidade mineira para a pesquisa aplicada ao mercado começou a se desenvolver poucos anos antes da criação da incubadora. A UFMG registrou sua primeira patente em 1992. De acordo com Campolina, a trilha foi aberta para a UFMG, hoje com 52,6 mil alunos, graças às mudanças na legislação da época. Em 1996, entrou em vigor a lei de patentes. Em 2004, surgiu a lei da inovação tecnológica, que garante para o inventor de um produto ou processo, até 30% do valor de seu licenciamento ("downpayment").