Título: Para FMI, Brasil pode estar superaquecido
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2011, Brasil, p. A4

De Brasília

O relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), a ser apresentado em abril, durante encontro anual em Washington, trará duas avaliações sobre o Brasil. A primeira é negativa e apontará riscos de superaquecimento da economia em meio a temores de escalada do preço internacional do petróleo. A segunda análise é positiva e indicará que não há riscos de deterioração da política fiscal. O sinal será de confiança de que o governo da presidente Dilma Rousseff cumprirá a meta nominal de superávit primário de R$ 117,9 bilhões.

O diagnóstico do FMI sobre a economia brasileira foi transmitido pessoalmente pelo diretor-gerente do fundo, Dominique Strauss-Kahn, à presidente Dilma Rousseff e ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, ontem, em Brasília. A visita coincidiu com a apresentação das contas nacionais do ano passado, que apurou expansão de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado.

Ao avaliar a economia mundial, Strauss-Kahn disse que a recuperação global avança rapidamente na Ásia e na América Latina, de forma incerta nos Estados Unidos, e lentamente nos países europeus. Nesse contexto, ele afirmou que há riscos claros de superaquecimento na economia brasileira e comentou como acertada a decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic para 11,75% ao ano.

Ele afirmou que o FMI detecta superaquecimento também em outras economias emergentes. Para o fundo, isso representa um duplo problema, porque o excesso de expansão vem acompanhado do temor de elevação do preço internacional do petróleo e dos efeitos disso sobre oferta, preços e inflação.

Com esse diagnóstico, e em meio à comemoração generalizada das autoridades sobre o crescimento de 7,5% do PIB em 2010, Strauss-Kahn preferiu salientar que vê o governo brasileiro adotando medidas para esfriar o ritmo de atividade. Avaliou ainda que o Brasil possui "um conjunto de problemas", entre os quais uma baixa taxa de poupança interna e pública, que o torna dependente dos fluxos de capital estrangeiro. Essa é uma das fontes de pressão sobre o câmbio. "O programa "quantitative easing" dos Estados Unidos é o bode expiatório", observou Strauss-Kahn, em referência à expansão monetária dos EUA.

Ele informou que o próximo relatório conterá uma projeção atualizada sobre as condições fiscais brasileiras. No início do ano, o FMI apresentou um diagnóstico alertando para o risco de deterioração fiscal das contas no país. Ao explicar essa análise, o diretor-gerente disse que a avaliação foi feita com dados que não estavam atualizados sobre a iniciativa do governo em conter gastos públicos. Disse ainda que o relatório deveria ter registrado, em nota de rodapé, que se tratava de um diagnóstico com base em dados passados.

"Fizemos uma análise com o que tínhamos em mãos e vimos deterioração. Depois disso, medidas foram anunciadas, incluindo o corte de R$ 50 bilhões [de gastos do Orçamento]. Estou confiante de que governo alcançará esse empenho", concluiu. (LO)