Título: Economistas pedem medidas nos campos monetário e fiscal
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2011, Brasil, p. A4

O esforço para conter a demanda acelerada será mais eficaz se o governo realmente aliar as políticas monetária e fiscal, dizem os economistas. Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, avalia que "o investimento [dos últimos trimestres] foi insuficiente para evitar pressões inflacionárias". Ele considera que o caminho para alavancar os investimentos de modo a dar sustentação a um crescimento forte e duradouro seria o governo fazer um esforço prolongado para conter os gastos correntes e aumentar os investimentos públicos, de modo a gerar um clima de confiança para aumentar também o investimento privado.

Para Leite, se a presidente Dilma Rousseff fraquejar no esforço fiscal dará a vitória à corrente governista que considera esse esforço dispensável para manter o crescimento econômico.

Para Leonardo Carvalho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o consumo forte já havia alertado o Banco Central (BC), que desde dezembro do ano passado vinha agindo para reduzir a disponibilidade de crédito, um dos impulsionadores do ciclo de consumo elevado, juntamente com o aumento da massa salarial.

Carvalho entende que a elevação de 0,5 ponto percentual na taxa de juros definida anteontem pelo BC é compatível com o quadro da economia expresso pelo desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Para o técnico do Ipea, as medidas de restrição ao crédito têm efeito mais rápido do que elevação dos juros, que leva de seis a nove meses para mostrar resultados no comportamento da demanda.

Para Rogério Sobreira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o número agregado do PIB de 2010 esconde um processo de desaceleração ao longo do período. Ele alerta também que o número de 21,8% de crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) "parece bom, mas está longe de indicar que o país resolveu o desafio do investimento".

Sobreira prevê desempenho bem mais modesto da FBCF neste e no próximo ano, não só porque a poupança doméstica segue sendo muito baixa (16,5% em 2010) como também porque o custo de capital no Brasil segue sendo proibitivo. Para ele, a maioria confortável que a presidente Dilma Rousseff dispõe no Congresso Nacional torna o atual momento propício para que o governo tome a iniciativa de atacar as estruturas tributária e fiscal, fontes de encarecimento dos recursos para investimentos, ao mesmo tempo que segue atuando no curto prazo com as políticas fiscal e monetária para manter o crescimento sem risco inflacionário.

Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, acredita que o consumo vai seguir crescendo, mesmo que em ritmo menor, porque a massa real de salários está se elevando com o aumento do número de empregos e há crédito disponível para a população. "A situação econômica atual permite que você tenha o consumo das famílias desacelerando, mas ainda crescendo", avalia, incluindo o programa Bolsa Família e o dólar barato como outros fatores favoráveis.

Freitas entende que "o voo de galinha" acabou e que os investimentos, mesmo com oscilações sazonais como a do quarto trimestre de 2010, vão seguir crescendo, porque o empresário "sabe que vai haver demanda". "O Brasil tem espaço para o crescimento do consumo, assim como a China e a Índia", concluiu dizendo que o "o pibão (expressão usada pela presidente Dilma) virá acompanhado por um PIB menor, mas ainda sustentável".