Título: Tolerância zero com invasores
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Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2010, Opinião, p. 22

O basta às invasões no Distrito Federal durou pouco, e não poderia ser diferente. O GDF apertou o cerco da fiscalização, com o uso de monitoramento via satélite e a disponibilização de um número telefônico (o 156, da Terracap) para o recebimento de denúncias. Também ordenou à Secretaria de Ordem Pública, Social e de Controle Interno que erradique as invasões surgidas a partir dos últimos três anos. Amenizou, por algum tempo, mas continuou longe de resolver o problema, o que apenas será conseguido com ampla investigação policial que desarticule as quadrilhas e ponha os grileiros atrás das grades. Ou seja, com tolerância zero.

A aparente calmaria durou até o início deste ano, quando houve tentativa de ocupação de antiga área de reflorestamento entre o Paranoá e São Sebastião, às margens da BR-251. Em junho, o tema voltou às páginas do Correio, com o parcelamento de área pública localizada no Núcleo Rural do Torto, no Lago Norte. O bairro, um dos mais nobres da capital federal, está de novo nas manchetes do jornal, pelo mesmo motivo, agora com denúncias de truculência explícita. Ao lado do Setor de Mansões, com vista privilegiada para o Lago Paranoá, o Condomínio Privê 1, em processo de regularização, é o alvo da vez. Já detém o recorde de registros de ocorrências na 9ª Delegacia de Polícia, e não é para menos: nos últimos 18 meses, o preço do lote no local saltou de R$ 40 mil para R$ 200 mil.

É sintomático que a indústria da invasão volte a agir justo em ano eleitoral. E que a ousadia dos bandidos cresça com a aproximação do pleito. Estranho é que seja tão difícil identificar e levar os responsáveis à Justiça. No Privê 1, há nítidas evidências de formação de quadrilha. Documentos são falsificados, homens armados munidos de radiocomunicadores se apresentam de forma ostensiva, cercas e piquetes vão ao chão e muros e outras construções aparecem da noite para o dia. Os criminosos criam lotes em área de preservação ambiental e espaços reservados a equipamentos públicos e até vendem mais de uma vez a mesma unidade. Mais grave: moradores sofrem ameaças de morte.

A julgar por depoimentos colhidos pelo jornal com pessoas temerosas de se identificarem, o combate às ocupações irregulares vem sendo negligenciado. Chamamos a fiscalização, denunciamos ao governo e ninguém faz nada, queixou-se um dos integrantes da administração do Privê 1, deixando clara a omissão do poder público. É inaceitável. Urge pôr fim imediato à farra dos grileiros no DF. Primeiro, aperfeiçoando o monitoramento e intensificando a vigilância. Segundo, acelerando os processos de regularização fundiária. Por fim, mas não necessariamente nessa ordem, desarticulando as quadrilhas e tirando de circulação os malfeitores.