Título: Serviços puxam emprego em fevereiro
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2011, Brasil, p. A3

A ausência de feriados e o grande volume de contratos temporários firmados nos subsetores ligados ao Carnaval ajudam a explicar o saldo positivo de 280,8 mil empregos criados em fevereiro passado, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A reativação da construção civil, por meio da maior oferta de vagas para a retomada das obras, e o dinamismo do setor de serviços também influenciaram positivamente as estatísticas. O resultado, superior às 168 mil contratações em janeiro (dado já atualizado pelo governo) e às 209,4 mil admissões em fevereiro de 2010 (dado sem ajuste), surpreendeu o governo e os especialistas em mercado de trabalho, que não contavam com uma reação tão forte para um mês em que o padrão é de acomodação na oferta de vagas.

A expansão da abertura de postos com carteira assinada foi generalizada entre os 25 segmentos pesquisados, sendo que 10 registraram recordes. Os setores que mais contribuíram para os resultados foram o setor serviços, com 134,3 mil vagas, a indústria da transformação, com 60 mil, e a construção civil, com a contratação de 30,7 mil trabalhadores.

No setor de serviços, os destaques foram o comércio e a administração de imóveis, cujas empresas admitiram 40,9 mil pessoas. No setor industrial, a indústria alimentícia contratou 13 mil pessoas, seguida pelas indústrias químicas, com 7 mil. Na agricultura, foram 20,8 mil novas vagas.

Na avaliação do Ministério do Trabalho, a economia se mantém aquecida e as medidas adotadas pelo governo para esfriar o ritmo de atividade ainda não se fizeram sentir na economia real. O ministro Carlos Lupi reafirma a meta de geração recorde no ano de 3 milhões de contratações líquidas.

O Ministério do Trabalho ressalta que as estatísticas de fevereiro também foram influenciadas pelas contratações de trabalhadores em regime temporário e que essas admissões foram feitas para reforçar as atividades vinculadas ao Carnaval. Como o feriado foi em março, fevereiro também contou com o efeito positivo de possuir mais dias úteis que o padrão para o mês.

Para analistas de fora do governo, o resultado do último mês veio bem mais forte do que o usual principalmente em função das oportunidades geradas no setor de serviços e pela grande contratação no setor industrial. Uma das avaliações é que o mercado de emprego formal reage de forma defasada ao ritmo de atividade e que os dados de fevereiro ainda não incorporam um ritmo menos acelerado de expansão do PIB. "Primeiro há uma reação na produção e depois vê-se a consequência no mercado de trabalho", afirma o economista da Opus Gestão de Recursos Humanos, José Márcio Camargo.

O economista lembra que as demissões acarretam custos elevados. Para ele, em meio à tentativa do governo de esfriar a economia, os empresários podem estar aguardando os efeitos da alta dos juros e das medidas de restrição ao crédito para avaliar a necessidade de dispensa de mão de obra. Para Camargo, se o objetivo do BC for fazer a inflação de 2011 ficar em 6% (ainda assim superior ao centro da meta de 4,5%) dificilmente serão geradas 3 milhões de vagas de trabalho com carteira assinada.