Título: Resultado surpreende mercado e provoca elevação nos contratos de juros futuros
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2011, Brasil, p. A3

A mediana das expectativas do mercado apontava para uma geração de 190 mil vagas formais em fevereiro, mas o resultado oficial, divulgado ontem pelo governo, de 280,8 mil empregos com carteira assinada, alterou os rumos do mercado financeiro.

Na mesma hora em que o Ministério do Trabalho divulgou os números recordes no mercado de trabalho em fevereiro, os contratos de juros futuros negociados na BM&FBovespa sofreram uma escalada - os contratos com vencimento em janeiro de 2012 voltaram a subir, depois de acumular quatro dias consecutivos em queda. Os contratos mais longos, com vencimento em janeiro de 2013, não registraram apenas reversão de rumo, mas também forte salto: de 12,67% para 12,75%, em apenas um dia.

Em queda desde a reabertura dos mercados após o feriado do Carnaval, as taxas de juros futuros não reagiram sequer às turbulências na economia japonesa, em decorrência do tsunami de sexta-feira. Importante indicador das expectativas de bancos, fundos e investidores em relação à política monetária brasileira, os contratos de juros futuros são apostas que levam em conta o ritmo da economia e da inflação na formação de preços. Ao fechar em 12,8%, o mercado avalia que o atual valor da taxa de juros básica da economia, em 11,75%, será elevada em mais um ponto percentual pelo Banco Central.

"O mercado olha a inflação, que está pressionada, acreditando na desaceleração da economia, perseguida pelo governo com os cortes no Orçamento e as elevações nos juros", afirma Pedro Galdi, analista de investimentos da corretora SLW. "Mas o sinal do Caged de fevereiro foi muito forte, a economia ainda está acelerada", afirma. Para ele, o resultado do mercado de trabalho em fevereiro "pressiona" o governo, que precisará trabalhar em novas medidas prudenciais para "apertar" a concessão de crédito ao consumo.

As medidas tomadas pelo BC em dezembro, que reduziram o ímpeto do crédito para compra de automóveis, não foram suficientes, avalia Galdi. "As pessoas estão comprando menos carros, mas continuam adquirindo geladeiras, alimentos, tudo em grande escala, o que mantém a demanda interna aquecida, sustentando uma economia aquecida", afirma o economista.

Segundo Galdi, o mercado financeiro já "entendeu" que indicadores de emprego e renda, como o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), são importantes indicadores do ritmo futuro da inflação. "Como o crescimento é muito dependente do mercado interno, e esse continua apontando forte expansão, não dá para ficar esperando grande recuo na inflação", diz.