Título: Fazenda espera enfraquecimento da inflação
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2011, Brasil, p. A3

O documento "Economia Brasileira em Perspectiva", divulgado ontem pelo Ministério da Fazenda, traça um cenário otimista para a trajetória da inflação este ano. Segundo ele, após a forte elevação no último trimestre de 2010 e nos dois primeiros meses deste ano, a inflação, medida pelo IPCA, caminha para a desaceleração em março e abril.

Essa desaceleração, de acordo com o documento, decorre da redução dos preços de vários alimentos e do término do efeito das tarifas de ônibus e das mensalidades escolares. O Ministério da Fazenda ressalta que permanece "alguma pressão no setor de serviços", mas observa que ela "deverá reagir à desaceleração da economia e à redução dos gastos do governo".

No cenário traçado pelo Ministério da Fazenda, a alta da inflação não decorreu de pressões de demanda, mas fundamentalmente do aumento dos preços internacionais das commodities, a partir de setembro. "O aumento da liquidez internacional e poucas alternativas de aplicações financeiras elevaram os preços das principais commodities, sendo que, a partir de setembro de 2010, o índice CRB (Commodity Research Bureau) superou os valores pré-crise internacional", diz o texto, que ressalva: "O impacto sobre a inflação brasileira tem sido atenuado pela valorização do real".

Mesmo quando analisa o item "alimentos no domicílio", o documento observa que a alta "tem comportamento sazonal (commodities e entressafra) e não reflete necessariamente pressões de demanda". Para a Fazenda, o forte aumento do item "alimentos fora do domicílio" reflete "principalmente o crescimento da massa salarial".

Se os alimentos fossem excluídos, a variação do IPCA em 2010 teria sido de 4,4%, de acordo com o documento da Fazenda. "Os demais ítens continuam a apresentar comportamento compatível com o ritmo de crescimento da economia, sem pressões de demanda", diz o texto. O documento diz ainda que "a taxa de inflação no Brasil apresenta uma das menores volatilidades em comparação à de outros países emergentes".

A análise do Banco Central é diferente. O BC vê dois momentos distintos para a inflação neste ano. Até o terceiro trimestre, o índice de preços oficial (IPCA) acumulado em 12 meses "tende a permanecer em patamares similares ou mesmo superiores àquele em que atualmente se encontra", avaliou a autoridade monetária na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na semana passada.

A partir do quarto trimestre, no entanto, o cenário central da autoridade monetária indica tendência declinante para a inflação acumulada em doze meses, "deslocando-se na direção da trajetória de metas", diz a ata do Copom. O diagnóstico da autoridade monetária é de que além do choque de preços das commodities no Brasil e no exterior, que ainda deverá impactar os preços via inércia, há "relevantes riscos derivados da persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda, apesar dos sinais de que esse descompasso tende a recuar".

A conclusão do Ministério da Fazenda é a de que o Brasil "está preparado para crescimento acima de 5% entre 2011 e 2014, liderado pelos investimentos e com a inflação sob controle". Segundo o documento, a redução de R$ 50 bilhões das despesas do governo este ano, recentemente anunciada, "abre espaço para manutenção dos investimentos, criando condições para a redução da taxa de juros e para novas desonerações tributárias".

Uma das tabelas do documento indica que a meta de superávit primário perseguida pelo governo este ano é de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a "meta cheia", sem o desconto dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas esse percentual é mostrado como "estimativas do governo". (Colaborou Fernando Travaglini, de Brasília)