Título: Pânico com contaminação nuclear afeta mercados em todo o mundo
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini; Pinto, Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2011, Finanças, p. C1
Crescente pânico diante da possibilidade de contaminação nuclear provocou temores de contágio financeiro. Uma queda dramática nas cotações de ações japonesas fizeram os investidores correr atrás da segurança em dinheiro e títulos do governo. A média Nikkei 225 em Tóquio caiu quase 11%, no terceiro pior dia de negócios em sua história depois que uma nova explosão numa usina nuclear no nordeste do Japão deixou os mercados atordoados, tentando avaliar as incertas implicações.
"Para muitos investidores, deve ter sido um momento para vender a qualquer preço", disse Steve Lewis, da Monument Securities. "Vendo que investidores estrangeiros vinham contribuindo significativamente para a demanda por ações no Japão desde novembro do ano passado, não é surpreendente que tenha ocorrido uma fuga precipitada do mercado."
O efeito de contágio fez com que as ações em todo o mundo registrassem sua maior quedas diárias em sete meses, ao passo que uma alta dos títulos do Tesouro dos EUA fez com que os rendimentos de referência alcançassem seu mais baixo nível neste ano, enquanto o rendimento dos títulos alemães atingiram recordes de baixa em dois anos. "Os "suspeitos habituais" estão em alta: dólar e franco suíço e iene, de todo modo também um tradicional refúgio seguro, também está se beneficiando da possibilidade de repatriamento dos fluxos [para o Japão], na esteira da crise", disse Kathleen Brooks, da Forex.com.
O Credit Suisse aconselhou os investidores a manterem exposição excessiva em ações de empresas japonesas, argumentando que o governo irá tomar medidas para desvalorizar o iene.
No mercado acionário, o índice FTSE All-World caiu 2,5%, assinalando a maior queda diária das ações em todo o mundo em sete meses. Mas o padrão iniciado na Ásia - de uma desaceleração no ritmo das liquidações - repetiu-se nos EUA e na Europa, e o S&P 500 recuou 1,5% e o FTSE Eurofirst 300 perdeu 2,2%.
Um dia febril nos mercados que provocou renovadas preocupações sobre o progresso da recuperação econômica mundial ergueu o pano de fundo para o Federal Reserve manter sua postura de política acomodatícia em sua reunião de ontem, apesar do elemento animador nos recentes dados econômicos americanos. "O Fed não assumiu uma postura mais acomodativa em face dos problemas no Japão e no Oriente Médio e manteve seu curso atual", disse Dan Greenhaus, da Miller Tabak.
Nos mercados de dívida pública, os rendimentos dos títulos para 10 anos do Tesouro dos EUA caíram 8 pontos base, para 3,29%, após atingir seu nível mais baixo desde dezembro, enquanto os rendimentos dos títulos alemães para 10 anos caíram 10 pontos base, para 3,14 pontos base - tendo registrado, em terminando momento, a maior queda em dois anos. Os rendimentos de títulos referenciais espanhóis caíram 9 pontos base, após um bem-sucedido leilão de ¿ 5,5 bilhões.
A crise japonesa provocou rumores, no mercado, de que o contraparte mais agressivo do Fed, o Banco Central Europeu, não deverá, em sua reunião de abril, colocar em vigor sua sinalização anterior de aumento nas taxas de juro, especialmente em vista de as taxas de empréstimos europeus interbancários terem caído nos últimos dias.
Mas Brooks comentou: "A recente moderação da taxa europeias é uma reação perfeitamente natural nesses mercados extremamente instáveis e incertos e não sinaliza que o BCE irá abster-se de elevar os juros no próximo mês. As taxas permanecem elevadas".
Nos mercados de commodities, o preço do petróleo caiu devido à perspectiva de redução da demanda da indústria japonesa, ao passo que o cobre recuou para um mínimo em três meses. O ouro também caiu, pois seu status de refúgio seguro foi atropelado pela fuga da conversa de ativos em dinheiro.
Nos mercados de câmbio, o iene foi a moeda com maior valorização, tendo subindo 0,9% frente ao dólar, apesar de mais um dia de injeções de liquidez pelo Banco do Japão. Divyang Shah, da IFR Markets, alertou que o iene continuou a ser um "terreno de volatilidade", dada a perspectiva de ação do governo para enfraquecer a moeda.