Título: Impacto forte nos derivativos
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini; Pinto, Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2011, Finanças, p. C1
Um fluxo de saída de recursos dos investidores japoneses dos ativos em reais impactaria mais o mercado de derivativos de real versus dólar no exterior, os contratos a termo sem entrega física chamados em inglês de non-deliverable forwards (NDFs), segundo relatório do J.P. Morgan.
O banco explica que no ano passado mais de 80% dos fundos de investimento no exterior no Japão, também chamados de Toshin, foram investidos em mercados emergentes. A metade desses fundos Toshin vieram investir em ativos brasileiros, diz o relatório, ou US$ 81,6 bilhões (6,6 trilhões de ienes).
A maior parte desses recursos - US$ 42 bilhões (3,4 trilhões de ienes) - seria investida no que o mercado internacional chama de "currency overlay funds", os fundos mais especulativos que ganham com posições em derivativos de câmbio. Para não entrar no Brasil nem pagar IOF, esses fundos investem no mercado de NDFs de real versus dólar.
Um desmonte de posições compradas em reais contra o dólar nesse mercado não impactaria diretamente o mercado de câmbio à vista no Brasil, mas acabaria afetando o mercado de dólar futuro na BM&FBovespa, que contribui de forma determinante para a formação do preço do dólar no mercado interno.
Outros 1,8 trilhões de ienes, ou US$ 22,3 bilhões, são investidos em títulos de emissores brasileiros no exterior, enquanto outros 0,7 trilhões (US$ 8,7 bilhões) vão para investimentos em fundos de ações brasileiras e mais 0,7 trilhões estão investidos nos chamados fundos Uridashi, que compram papéis em outras moedas que não o iene japonês.
De acordo com a visão do analista Junya Tanase, da área de estratégia global para câmbio do J.P. Morgan, os investidores japoneses podem ser responsáveis por parte importante do que ele considera como uma "supervalorização do real" neste momento. Ele lembra que, depois da introdução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre os capitais estrangeiros, em outubro do ano passado, a média de saída de recursos dos investidores japoneses é de US$ 16 milhões por semana em 2011, na comparação com os ingressos de US$ 182 milhões em 2010.
As remessas de recursos dos dekasseguis - brasileiros descendentes de japoneses que trabalham no Japão - ao Brasil, que já vinham caindo por conta da crise econômica japonesa e do retorno ao país desses dekasseguis, deverão ser reduzidas à zero ou até invertidas. Essas remessas, que chegaram a US$ 94,1 milhões por mês no seu auge, caíram para cerca de US$ 30 milhões por mês durante o ano passado. Mas o impacto dessas remessas é pequeno no câmbio.